sábado, 2 de agosto de 2008

Capítulo IX - Visão de um diálogo

O sol refletia seus raios nas águas do Grande Lago, parecia que as águas adquiriam um brilho dourado incomum. Sentada sobre uma grande pedra, uma mulher repousava seus pés dentro das águas. Sua túnica alva e seu pequeno manto azulado marcavam a paisagem completamente verde da vegetação. Em suas costas um par de asas de borboletas desaparecia. A mulher deita sobre a pedra, uma brisa um pouco mais forte fez seus cabelos esverdeados balançarem e suas orelhas pontudas ficaram à mostra. Deitada ela olhava para as copas das árvores próximas, as folhas dançavam com a brisa.

Uma luz azulada e intensa surgiu próxima a pedra que a mulher estava deitada. Uma forma aparentemente humana surgiu de dentro do foco de luz, uma silhueta feminina com três pares de asas com penas brancas e cinzas que se abriram imponentes. A mulher vestia uma túnica em tons azulados e uma capa arroxeada presa por uma jóia dourada em seu ombro esquerdo. Cabelos lisos e de um tom lilás intenso, seus olhos tinham a mesma cor. Seu semblante era extremamente belo, porém não parecia estar feliz, demonstrava um certo desprezo por estar ali.
A delicada mulher deitada sobre a pedra, apóia-se sobre os cotovelos levantando um pouco seu tronco e olhando calmamente para a outra que acabara de chegar diz sem parecer preocupada:


_Mab, minha querida irmã, imaginei que iria me visitar hoje! Faz um bom tempo que não nos vemos, desde que me contaste do teu desejo de ser... Como se diz? Ah, Deusa de Celtiland!
_Viviane, deixe o sarcasmo por minha conta, ele não combina com tua personalidade, muito menos com esse teu rostinho pueril e gentil! _disse Mab em um tom querendo parecer mais calma do que realmente estava. _ Desde que comentei contigo sobre a minha vontade...
_Tua vaidade, queres dizer, querida irmã? _interrompeu Viviane. _ Esse mal já esteve em nosso meio mais de uma vez e sabes como costuma terminar...
_Para os tolos que erraram em suas ações! O portador da Luz tentou tomar a Cidade Celeste, achou que um número de anjos poderia dar conta de um motim, pobre tolo! E mais tolos ainda foram os pobres serafins que se apaixonaram pelas filhas dos homens o que conseguiram com isso? Nada! Apenas engrossam o caldo dos companheiros do primeiro arcanjo caído! Não sou como eles! Tenho um domínio onde o Altíssimo mais presa, entre suas criaturas...
_Não vejo diferença entre tu e os demais! A vaidade é a mesma! Estás corrompida pela vontade de ser mais importante que o altíssimo! Sua missão era simples: Proteger os Humanos e os Drouws de Celtiland, preparar o caminho para que a palavra do Filho do Altíssimo chegasse aos corações de seus protegidos, ao invés disso, permitiu que a discórdia fosse semeada mais do que o necessário nos corações deles e tenta se fazer Deusa! Não consegue nem ser mãe para eles! Suas brigas e intrigas me parecem um reflexo das tuas falhas para com...
_Como me acusa de falhar? Como comparas as ações dos meus seguidores a mim mesma? Se assim o fosse, todos os Anjos protetores de humanos teriam falhado! Guerras eclodem sobre esse solo desde que o jardim do Édem foi fechado! Esqueces também que tens um norte inteiro de arrogância que não consegues diminuir ao longo dos séculos? Não és tão perfeita assim, Viviane!
_Meus filhos adotivos ainda têm muito a aprender, principalmente os do norte, sei que com a palavra do filho do Altíssimo e sua presença em nossa ilha essas atitudes tenderão a zero...
_Sonhe “Senhora do Lago”! Não deixarei Celtiland! Essa ilha é minha, e esses povos são meus! Acreditas mesmo que me assusta arquitetando essa aliança com Santa Sofia? Suas conversas com Maximiel, me deixaram em alerta! Percebi que o interesse de Uter seria usado para tentar me derrotar, pois te digo Viviane, Não descansarei um só minuto até ver essa praga sofiense fora de minha ilha! E Maximiel que fique onde está, os humanos de santa sofia já são o bastante para ele! Não precisa dos meus!
_Percebes como falas? Não pensamos como tu! Maximiel hoje auxilia o Ungido no cuidado dos sofienses, os ensina a serem pessoas melhores, ele não é Deus dos humanos, tu que estás tão envaidecida que não consegue ver a diferença! Mab, te peço de novo, abandone essa idéia, muito sangue inocente já foi derramado, é isso que queres? Ver teus protegidos sofrerem por tua causa?
_Eles só me defendem quem tem de parar são os sofienses, e como tu estás ao lado deles agora, não me responsabilizo pelo sangue elfico que lavará Celtiland!
_Tentei mais uma vez, não escutas! No final sabes o que o Altíssimo fará!
_Ele nada pode fazer em um lugar que não acreditam nele!


Viviane parecia gélida suas orelhas caírm e seu semblante ficou duro.
_Não conseguirás tal feito, não se depender de mim!
_Não temo a ti, e muito menos essa tua espadinha. Uter não tem o coração puro para empunhá-la em sua magnitude, essa tua ação me parece mais um desespero para tentar me deter, sinto que não conseguirás muito!
_Acredito que tua visita se encerra aqui, querida irmã!
_Sim, Viviane, só apareci para dar-te um oi, ou como dizem seus pequenos:Aiya!
_Aiya, Mab e Namárië!


Uma luz azulada voltou a envolver Mab que abriu suas asas novamente e desapareceu junto com a luz. Viviane sentou-se na pedra, balançou um pouco seus pés dentro da água do Grande Lago e em suas costas, agora apareciam três pares de asas com penas alvas como a neve que cobria parte do solo ao redor do lago. A Dama do Lago abriu-as e de um movimento alçou vôo em direção ao céu desaparecendo.


Uma voz longe ecoava: Lenwo... Lenwo... Lenwo...
_Lenwo, será que poderias ao menos fingir que prestas atenção nas coisas que te digo? _ Lavië estava parada e séria me olhando enquanto tinha um pedaço de pão em sua mão esquerda. _Estou a um minuto te chamando, parece que dormes!
_Estranho parecia que eu estava em outro lugar...
_E estava, Naldus! _disse-me Merlin sorrindo. _ Tu também estavas vendo o dialogo...
_Que diálogo? _perguntou a linda elfa parecendo não entender nada. _ Vós estiveis aqui desde que saímos do salão principal e tirando aqueles cinco druidas de Dorvus que estão ali no canto, não há mais ninguém nessa copa! Estais a prestar atenção na conversa deles?
_ Não Lavië, eu tive uma visão nesse instante, foi como se eu estivesse na margem do Grande Lago...
_ E ele viu um diálogo entre Viviane e Mab... _disse Merlin que logo em seguida bebeu o que sobrava do vinho em sua caneca.
_ Nossa que legal! Conte-me como foi, tu podes não?
_Acho que não tem mal nenhum nisso... O que acha Merlin?
_Eu a deixaria curiosa...


Merlin mal terminara a frase e já tinha recebido um tapão de Lavië. Os dois começaram a rir, o que chamou a atenção dos druidas que estava no outro canto da copa. Após os dois se recomporem eu contei a minha amiga como fora a visão. Assim que terminei Mestre Hortinin entrou na copa e se aproximou de nossa mesa.


_Não preciseis levantar! _ disse, ao perceber que iríamos ficar de pé. _ Só vim dar um recadinho pra vós e pedir uma ajuda de Merlin, se puderes, amigo...
Merlin sorriu. Minha amiga e eu ficamos interrogativos.


_Mestre Linwë propôs que a mensagem fosse entregue pelo irmão Naldus e eu pretendia pedir que Merlin também fosse contigo, já que o amigo conhece Uter, imagino que sendo assim seria mais fácil de encontrá-lo ainda hoje!
_Certamente Mestre, acompanharei Naldus, ou melhor, farei com que ele chegue tão rápido quanto chegou a Civitis!
Senti um frio na barriga, lembrando da nossa pequena invasão em Civitis.
_Ótimo! Naldus, já falei com Paussin, ele irá contigo fazendo escolta e desta vez levarás Lavië contigo, um rosto feminino ajuda nessas horas! _mestre Hortinin falou isso e piscou para a minha amiga que sorriu com a surpresa do pedido. _ Bem não percais tempo, encontrem Paussin e os outros na minha sala, podeis partir de lá sem muito alarde!
Despedimos-nos do mestre e fomos para a sala dele e em minha mente não saia a sensação de ser transportado novamente pelo feitiço de Merlin e querendo que isso não virasse rotina.
(continua)

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