sexta-feira, 28 de maio de 2010

Capítulo XVII - Acampamento


O som das chamas trepidando ao clarão do luar, mas mal era percebido diante do som das pessoas conversando ao redor da fogueira. Era o último pernoite antes do nosso destino final, Hertfordville, e Mestre Linwë achou por bem distrair-nos para que a ansiedade não tomasse conta de nossos corações.

Lavië se aproximou de Merlin e eu com um pano segurado pelas pontas, parecia conter algo.

_Colhi Johannesbeeren e queria dividir convoco!

_Que fruta é essa? _perguntou Merlin

_Cassis é como ela se chama em língua comum. _expliquei.

_Ah, claro, eu adoro cassis!

Seguimos Lavië até sua barraca. Lá sentamo-nos e enquanto comíamos das frutinhas pretas conversamos sobre amenidades. Em um dado momento, percebi que a moça tinha uma mancha no rosto.

_Lavië, acho que sujaste o rosto enquanto colhia as frutas...

_Provável, estava escuro e só tinha uma pequena pedra de luz contínua para me ajudar! _respondeu-me enquanto pegava um espelho de prata polida em sua sacola de viagem.

Enquanto ela limpava o rosto com um pano úmido, ouvi uma espécie de assovio.

_Ouvirdes isto? _perguntou Merlin.

_Parece o vento._respondeu a moça ainda passando o pano no rosto quase limpo.

_Sim, parece, mas não vejo as folhas das copas se moverem..._ respondi e olhei ao redor _ mas aqueles arbustos pareciam mexer...

Mal terminei a frase e senti uma onda de ar invadir a barraca e de certa forma me deslocou para o lado. Merlin também foi deslocado com a força invisível e Lavië foi jogada de costas ao solo.

_É um Silfo artificial! _gritou Merlin

_Dissipar magia! _gritei na intenção de desmaterializar a criatura, porém nada adiantou.

O ser de aparência Drow com asas insetóides e quase etérea voltou-se para mim voando rapidamente e me surpreendendo. Suas mãos agarraram meu pescoço e eu tentava me desvencilhar dele, mas só encontrava ar, minhas mãos atravessavam a criatura como se ela não existisse.

_Mísseis! _ouvi Merlin gritar e a luz de esferas voadoras saíram de seus dedos e atingiram o Silfo.

Ele me largou com o impacto do ataque, mas rapidamente já voltava em minha direção. Senti uma corrente de ar ao meu redor seguida da formação de uma barreira de pedras vindas de fora e a criatura bateu abruptamente a alguns centímetros de mim, então vi que Lavië empunhava sua baqueta e formava um escudo ao meu redor.

_Temos de tirá-lo da barraca! _gritou a moça.

Merlin fez um gesto e a cobertura voou deixando-nos ao ar livre. Isso chamou a atenção de nossos companheiros que até então não haviam percebido o que se passava conosco.

Vi vários druidas correndo em nossa direção e o Silfo também percebendo, evocou uma rajada de vento em espiral tão rápida que os jogou ao chão. Lavië e Merli também caíram e eu perdi meu escudo. O Elemental mirou-me novamente e eu mentalizei meu Cajado. O Oponente voou na minha direção demonstrando ataque frontal e eu girei para a esquerda desferindo um golpe com o cajado em diagonal, assim que ele se materializou em minhas mãos. A criatura sentiu a pancada, armas mágicas e ataques mágicos poderiam atingi-lo. Ele fitou-me com raiva e investiu em novo ataque eu lancei pedras afiadas sobre ele. Uma broca de água acertou-o na cabeça ao mesmo tempo em que as pedras voavam em seu peito e um som agudo de assobio saiu de sua boca, parecia um grito de dor. Merlin atacava com um chicote de terra, Lavië cercou a criatura com uma barreira de pedras imobilizando o ser.

Mestre Linwë já estava ao meu lado com sua baqueta em punho apontando para o silfo e bradou:

_Ventos da desordem extinguem-se no vácuo!

A barreira de pedras de Lavië pareceu se transformar em uma bolha cristalina e o Elemental parecia dissolver e regenerar logo em seguida sua forma, mas a expressão de dor era visível em seus olhos. Alguns momentos depois a criatura tombou. Mestre Linwë dissipou o vácuo e Merlin envolveu a criatura com o chicote de terra e me gritou:

Lenwo, o espelho!

Ao meu lado estava o espelho de prata. Apanhei no chão e corri até Merlin para jogá-lo no chão. O Mago com um movimento do chicote lançou a criatura ao ar para logo puxá-la na direção do espelho. O silvo caiu sobre o objeto e foi absorvido por ele.

Percebi que algum momento se passava enquanto todos olhavam para o espelho ainda no chão de terra. Merlin abaixou-se e apanhou o objeto.

_Um Elemental artificial e com características Drow... _disse o mago.

_Por que ele só atacou a nós? _perguntou Lavië.

_Quem o invocou conhecia a vós! _respondeu mestre Linwë. _Vós sabeis quem poderia ser?

_O diplomata que encontramos na sala de Uter. _respondeu Paussin que fitava o espelho também. _Ele foi o Drow que encontramos recentemente e estávamos todos juntos, acredito que se passasse por vós, Pityo Morn e eu seríamos os próximos alvos.

_Certamente, _disse Merlin com o espelho na mão _ Temos de enterrar este espelho, assim não corremos o risco de soltar o Elemental por acidente. Com uma boa camada de terra, mesmo que ele consiga sair, não sobreviverá soterrado. Desculpe Lavië, te compro outro espelho em breve.

A moça sorriu não se importando muito com a perda do espelho.

Merlin ainda conversou um pouco com Mestre Linwë e Contra-menstre Junwo. Ele acredita que o Elemental também serviria de espião para as tropas da Rainha Alëh.

Fomos arrumar nossas coisas e descansamos com turnos de guardas dobrados. A guerra acabara de começar para nós.

(continua)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Capítulo XVI - Campanha Iniciada

O círculo de pedras projetava uma grande sombra sobre nós. Mestre Linwë segurou a tocha com as duas mãos na direção do nascer do sol, dando graças e com uma oração invocou graças. Virou-se para o lado e posicionou a tocha sobre o grande jarro para logo largar o corpo incandescente nas águas tranqüilas. A tocha mergulhou e o som das chamas se extinguindo encheu o círculo.

***


Depois do desjejum peguei minha bolsa de campanha e cajado em meu quarto. Fora da Ordem, sou brindado com um sorriso iluminado no rosto de Lavië.


_Tenho uma coisa para ti!


_O que?


_Isto!


Em sua mão havia uma Elvischklee.

_Passei no Horto e Öada me presenteou com uma e disse que é bom ganhar, sendo assim, peguei esta para ti! _terminou a frase colando seus lábios nos meus.


_Muito obrigado! _respondi depois do beijo _ Eu admiro muito a beleza desta plantinha!


_Sei disso, Öada me contou das vezes que te via observar as mudas com suas folhas fechadas à noite.


_É mesmo, elas ficam fechadas como se estivessem orando... _respondi meio nostálgico.

Corneto tocando ao fundo. Era o aviso de agrupamento Druida, nos juntamos aos demais em formação de passeio. Silêncio, Trompa com toque longo, uma coorte fui acrescida a nossa frente. A Trompa fez um toque curto e uma segunda coorte se posicionou na retaguarda.

_Elfos, olhar à direita! _ exclamou Contra-mestre Junwo.


Viramos nesta direção e vimos Mestre Hortinin e Mestre Linwë no alto da escadaria. Depois de uma pequena pausa o Mestre começou a dizer:


_Irmãos, hoje vós deixeis a segurança de um lar e encontrarão a incerteza da guerra. Adoraria dizer que nada irá acontecer a vós, que todos voltarão para casa, mas não posso mentir. A forma mais fácil de matar um de nós é exatamente esta: em uma guerra. Mesmo assim peço que não larguem vossa fé e confiem no altíssimo!


A multidão bradou em gratidão às palavras do Mestre. Ele aguardou o silêncio e continuou:


_Durante este período em que estiverdes afastados de casa estarei longe fisicamente, mas meu coração vai convosco. Como não estarei por perto preciso lhes dizer quem zelará por vossas almas nesta campanha. Partirá representando o solo de Haendelle Contra-mestre Junwo, e assim sendo General da Coorte de ambas as cidades. Representando o solo de Vinyvass Mestre Linwë.


O ancião se aproximou da mulher com uma tiara metálica nas mãos. Mestre Linwë inclinou a cabeça e Mestre Hortinin fixou-a.


_Mestre Linwë, a partir de agora és a Governante da Campanha. As almas de nossos irmãos estão sobre seus cuidados diretos e sobre os cuidados indiretos de suas cidades de origem. Nossa caminhada será dura, mas nossos pés são fortes!


Mestre Linwe sorriu e voltou-se para nós.


_Irmãos cuidarei de vós nesta jornada difícil! Teremos dois dias de caravana até Hertfordville, onde encontraremos com as tropas de General Uter. Será apenas o começo, contudo rogo ao altíssimo para que isso não se prolongue mais do que possamos agüentar e sei que não sou a única a pedir. Vamos meus Irmãos, é a hora de partirmos!


A mestre abraçou o ancião e desceu as escadas, seu cavalo estava junto com a cavalaria da coorte a nossa frente. Um corneto soou solitário para ser seguido pelo toque dos demais acrescido de toques de trompa. Nossos passos seguiam o compasso da melodia e saindo da ágora nos dirigimos para o portão de Haendelle, as famílias acenavam das janelas, das portas, da rua... Sobre o ombro de meu pai vi Vanimë, ela e Alasse acenavam na direção atrás de mim, provavelmente avistaram Paussin. Meus pais me viram e acenaram, a pequena flor também me viu e jogou beijos. Retribui com um aperto no coração. Quando passamos pelos portões de Haendelle, uma lágrima desceu por minha face. Nosso mundo não seria mais o mesmo.



(continua)