domingo, 3 de agosto de 2008

Capítulo X - Comitiva diplomática

Saímos da copa em direção à sala de Mestre Hotinin. Lavië estava visivelmente excitada, era a primeira vez que ela saía da cidade representando nossa Ordem.
Abri a porta do gabinete, lá estavam Paussin, Pityo e Morn a nossa espera. Sobre a mesa do mestre avistei meu cajado, a baqueta e foice de Lavië e um pergaminho devidamente enrolado e lacrado, o documento que deveria ser entregue a Uter.

_Mais uma vez juntos para um passeio, amigo?_ perguntou-me Paussin ao me cumprimentar, para logo em seguida fazer o mesmo com meus companheiros.
_Verdade, parece que fomos eleitos os aventureiros do mês!_ respondi enquanto pegava meu cajado sobre a mesa.
_Precisamos levar nossas armas?_ perguntou Lavië, que mirava sua baqueta e foice, lembrando que a ultima vez que fez uso das armas foram em exercícios no dia anterior, com o contra-mestre Junwo.
_Por dois motivos, o primeiro por se tratar de uma visita Bélico-diplomática e segundo, para nossa própria segurança, por isso precisamos estar devidamente armados. _respondeu Morn, que estava ao lado da mesa.
_Ah, sim, entendi!_ a elfa exclamou enquanto ajeitava à sua faixa da cintura as armas.

Morn pegou o rolo de pergaminho e estendeu a mão na minha direção.
_Mestre Hortinin pediu para que o Irmão fosse o portador da mensagem!
_Certo, assim seja!
_Acredito que estamos prontos para irmos, não?_ perguntou Merlin ao grupo.
_Sim, só gostaria de saber onde exatamente surgiremos, não comentei com Lenwo, mas não achei muito agradável aparecer no meio do salão principal de Civitis._ Indagou Paussin a Merlin.
_Ah, claro, a culpa foi minha, na pressa, não perguntei o local que seria mais apropriado a vossa aparição, por isso foi ativada a coordenada que especifiquei ao criar o feitiço. Sei que isso causou um pequeno mal estar, contudo, a situação foi muito bem contornada!
_Graças ao Lenwo!_ disse Pityo, de pé ao lado de Paussin_ Desculpe-me Merlin, por ter interrompido.
_Não por isso! Dessa vez o ponto de chegada é a minha casa, somos seis, mas acredito que não quebraremos nada ao chegar!
_Sendo assim, podemos ir então!

Merlin pede para que fiquemos mais próximos uns dos outros, provavelmente para evitar que na nossa chegada, um de nós destruísse alguma coisa de seu laboratório. Ele faz um gesto rápido com a mão direita e a uma luz azulada logo nos envolve. O frio na barriga é imediato e a sensação seguinte é de ter os pés fora do chão por alguns segundos. Sinto meus pés tocarem o solo novamente, meu ventre parece ter se arrumado, a luz azul diminui e me vejo dentro da casa do mago.

_O que é isso? Sinto-me mais que enjoada!_exclamou Lavië procurando uma cadeira próxima.
_Normal sentir-se assim nas primeiras viagens._explicou o mago.

Passei as mãos pelos cabelos vermelhos de minha amiga, ela me mirou com seus olhos de água doce e tentou esboçar um sorriso. Realmente o efeito desagradável do transporte foi pior para ela.
Merlin pegou uma caneca em uma estante, depois um frasco sobre a mesa e tirou dele um líquido esverdeado como um tipo de chá e deu a ela.

_Isso vai fazer-te sentir melhor!
_Obrigada!

Ela bebeu do liquido.

_Boldo?
_Sim, folhas de boldo maceradas em água, gostas?
_Gosto, minha mãe costumava me dar folhas de boldo depois do jantar!
_E ela costumava comer as do pátio do colégio quando o escriba estava distraído!_interrompi o diálogo e fui seguido por umas risadas.

Lavië parecia bem melhor, sorria de verdade quando terminou de beber e devolveu a caneca ao Merlin.

Podemos ir?_perguntou Paussin.
_Sim, estou melhor!

Merlin abriu a porta e ganhamos a rua. Ele nos guiou até a alameda principal. Era 3 da tarde, o sol brilhava no céu limpo e o vento gelado batia em nossos rostos. Soldados iam e vinham pela rua. Um ou outro nos olhava, provavelmente por ver um grupo de soldados e druidas paramentados, mas acredito que por verem o jovem mago conosco, nenhum nos abordou.

Chegamos em alguns minutos ao castelo. Erguido no centro da cidade, a construção de pedras com quatro torres de alturas diferentes era a sede do governo e onde, quando não estava em batalhas, poderíamos encontrar Uter Pendragon.
Merlin se aproximou da entrada do castelo, dois guardas estavam um a cada lado da porta, um deles perguntou:

_O que deseja, senhor Merlin?
_Temos uma mensagem diplomática para entregar ao General Uter.
_Acompanharei os Senhores. Senhor Uter está no gabinete. É um dia movimentado, um outro diplomata está com ele agora.

Resolvi não perguntar, me pareceu que os demais também guardaram para si a curiosidade.

Andamos por grande parte do castelo até chegar á porta do gabinete de Uter, guardada por mais um soldado. Os dois se falaram rapidamente e o que guardava a porta entrou na sala. Passado alguns minutos ele voltou, abriu a porta e pediu que o seguíssemos. O guarda que nos guiou ficou substituindo o que seguíamos.

Adentramos uma saleta, o guarda fechou a porta e logo em seguida abriu outra à nossa frente. Um salão decorado com tapetes sofienses pendurados pelas paredes de pedra, várias tochas apagadas também fixadas perto da decoração era o que chamava a atenção quando a porta foi aberta. No fundo da sala, um homem de cabelos negros vestindo uma túnica vermelha tendo o brasão de Santa Sofia ao peito, sentava-se confortavelmente a uma cadeira toda ornamentada. Uma mesa com alguns rolos de pergaminhos, papiros, tinteiro e penas estavam a sua frente.O Sol inundava a sala com seus raios dourados que vinham da grande porta ao fundo que levava a uma varanda. Um conjunto de poltronas fazia um semicírculo ao redor da mesa e a poltrona mais à direita do homem de cabelos negros havia um outro homem. Seus cabelos eram brancos, compridos. Suas vestes eram negras com detalhes cinza, sua pele escura, olhos claros e orelhas pontudas denunciavam sua origem: era um Drow.

_Senhor Merlin e os enviados de Haendelle!_ exclamou o guarda.

O homem de vermelho se levantou, olhou-nos e disse:

_Seitai-vos! Quero muito ouvir o que vierdes me falar!

Aproximamos-nos das poltronas. Merlin abraçou o homem virou para nós e disse:

_Uter, esses são os enviados de Haendelle, Os Druidas Naldus e Lavië, O Capitão Paussin e os soldados Pityo e Morn.

_Prazer em vos conhecer! Sou Uter Pendragon, General da XXVII Legião de Santa Sofia. A que devo a honra de ter a vossa visita?

Com o pergaminho na mão, estendi para Uter e disse:

_Trago notícias da ultima reunião elfica terminada hoje em Haendelle.

Uter pegou o pergaminho, retirou o lacre e sentando-se na mesa começou a ler atentamente. Percebi que o Drow parecia interessado no conteúdo do documento.

_Estou surpreso com essa notícia! Senhores desculpem-me por minha indelicadeza! Este senhor aqui é Elladan Calafalas, Mensageiro da Rainha Alëh Arëhto._ disse Uter.

Olhamos para ele e este nos acenou com a cabeça, seus olhos prateados nos fitaram com um ar de superioridade.

_Este senhor veio entregar-me uma mensagem muito importante. _Uter virou-se e pegou um outro pergaminho sobre a mesa em que estava sentado_ Segundo este documento, a Rainha Alëh Arëhto, soberana Da ilha de Gildor e das cidades de Dünkel , Ägnor e Fingëh, declara seu repúdio contra a minha tentativa de dominar a Ilha de Celtiland. Sendo assim, por ter três cidades do seu domínio nesta ilha, ela decreta a partir da data de hoje que suas tropas se unirão às do Duque Cornwall contra as tropas sofienses. _disse Uter com um pequeno sorriso forçado em seu rosto.

Ficamos em silencio, apenas observando as ações do homem de cabelos negros e túnica vermelha que agora dirigia o olhar para o Drow sentado na poltrona.

_Senhor Calafalas, aproveito que o senhor voltará para ter com sua rainha e peço que a diga o seguinte: Não me intimido em saber que o numero das tropas de meu rival nesta ilha tenha aumentado, pois hoje mesmo meus aliados subiram em numero elevado!_ Uter bradou sacudindo o pergaminho que eu o entreguei_ Agora, gostaria que fosse o mais rápido possível para sua ilha, escondida no oeste, para que eu não tenha mais o desprazer de ver sua cara!

_Desprazer sinto eu em ter de ficar na presença de um humano como tu!_ disse Elladan ao se levantar da poltrona e sem esperar qualquer reposta de Uter, desapareceu em meio a uma luz azulada.

_ Interessante como os Drows sabem fazer uma saída espetacular! _ brincou o general, tentando descontrair após o insulto do diplomata de Gildor.
_É, mas não queira viajar nessa luz azul, os efeitos são horríveis!_ disse a minha amiga para o general.
_Por que diz isso, cara jovem?
_Passei mal depois do trasporte...

Uter demonstrou surpresa pelo ocorrido e Merlin logo explicou:

_As mulheres são mais sensíveis ao transporte, General! Quanto a experimentar, quando for do vosso desejo é só pedir!
_Obrigado Merlin! Capitão Paussin, posso considerá-lo como oficial Sofiense a partir de agora?
_Sim, Senhor! Meus soldados e eu estamos ao seu comando desde que o documento foi entregue!
_Ótimo! Só tenho uma dúvida... Lavië, tu carregas uma foice e uma vara de madeira à cintura, mas Naldus só leva um cajado, mesmo com todas as informações colhidas por meus batedores muito pouco sei sobre vós, druidas. Por que usam armas distintas, ou melhor, essa vara é uma arma?
_Sim, General, essa vara, ou como chamamos, baqueta, é uma arma. É feita de carvalho e seve para concentrar e canalizar a magia druida, mas não são todos os druidas que a usam, as mulheres a preferem. Posso realizar magias sem minha baqueta, mas canalizo melhor as energias do Nauth com ela. Já a foice é a minha arma de luta não mágica. O Irmão naldus usa o cajado da mesma maneira que eu uso a baqueta, a diferença é que o cajado também é uma arma de luta não mágica!
_Nossa, muito esclarecedor! _exclamou Uter_ Posso ver sua baqueta?
_Claro, senhor!

Lavië retirou sua baqueta da cintura e a deu a Uter. O general sofiense examinou a peça com cuidado. As baquetas eram esculpidas pelos próprios druidas o que a deixava com uma aparência artística inigualável, uma verdadeira obra de arte, arte mágica.

_Incrível! Estes desenhos são folhas e flores de tília? _indagou Uter.
_São, eu mesma que as entalhei!
_Como fizeste essa pequena escultura? Tílias crescem nas regiões frias do Médio-Império, não é nativa de Celtiland!
_Meu Avô é o Herbalista chefe de Haendelle, já viajou por grande parte do nosso mundo. Trouxe sementes e mudas de tília que só existem no horto lacrado de Haendelle.
_Horto lacrado? O que seria isso? _perguntou Uter, cada vez mais interessado.
_Naldus pode explicar melhor, ele fez estágio com meu avô! Poderia?
_Claro! _respondi animado _ Um horto lacrado é uma espécie de reserva para espécies exóticas. Se plantássemos uma tília sem nos preocuparmos com seu livre crescimento na floresta, causaríamos um desequilíbrio na diversidade da mata nativa. Uma planta exótica pode alterar uma cadeia alimentar, ou matar plantas nativas, isso seria um desastre, comprometeria nossa própria existência!
_Nunca havia pensado assim! Agora pensarei duas vezes antes de permitir que algum soldado transporte uma muda de planta para um lugar completamente diferente do império! E o seu cajado, Naldus, posso ver?
_Sim, senhor, por favor!

O General observou os detalhes do meu cajado, a sua aparência principal era como um galho de carvalho trabalhado com signos elficos e o símbolo de Viviane na parte superior, mas ele poderia tomar a forma que eu imaginasse, como fiz quando estive em Vernes da ultima vez.

_Belíssimo! _exclamou Uter._Percebo que vós não sois simples sacerdotes, isso significaria poder contar convosco no campo de batalha?
_Exatamente! _ respondi _ Não somente para cuidar dos feridos, estaremos lá para lutar, se for preciso.
_Gostei disso! Capitão Paussin, gostaria de ver uma pequena demonstração de combate de seus soldados, isto seria possível?
_Claro, senhor!
_Sendo assim, por favor, me acompanheis até o arsenal.

O General enrolou o pergaminho que eu o dera, colocou-o dentro de um tubo de couro, lacrou com cera e estampou o brasão sofiense nela. Dirigiu-se à porta e nós o seguimos.
Por um momento percebi que Lavië olhava para a mesa do general, sua expressão era de angústia.
_O que houve?_perguntei em tom baixo.
_Não sei, tive a sensação de ter escutado algo gemer e o som vinha dali _ ela me respondeu apontando a mesa com os olhos.
Olhei para a mesa, mas nada via de diferente. Minha amiga deu de ombros e seguiu andando. Mesmo cismado com o ocorrido, continuei andando.
Ganhamos a galeria de passagem e seguimos por um caminho diferente do que usamos para chegar ao gabinete de Uter. Depois de um tempo andando o general parou à frente de uma porta e falou com o guarda:

_Entregue este rolo para o escriba e peça que ele encaminhe uma cópia para o imperador!

Uter seguiu novamente pela galeria até sairmos no pátio do castelo. Em pouco tempo estávamos adentrando o arsenal. O general nos guiava pela edificação, que parecia um anexo do castelo, andamos por uma galeria que margiáva um pátio menor que o do castelo, mas de tamanho suficientemente grande para duas legiões sofienses treinarem como pude observar naquele momento. Paramos perto de um grupo de soldados, um dos homens vestia uma armadura de talas, capa vermelha e carregava um elmo na mão esquerda. À cintura, também à esquerda, uma espada curta. O homem era loiro, os cabelos compridos, olhos castanhos e era imberbe. Ele veio ao nosso encontro, estendeu o braço e disse:

_Ave Cäsar!
_Ave! _ respondeu Uter

Eles apertaram as mãos e Uter nos apresentou. Era conde Lenard, o Governador Hierárquico de Vernes. Ele nos saudou e parecia feliz em nos ver.

_Uma demonstração de luta dos gerreiros elfos? Por favor, meu avô costumava contar histórias sobre guerreiros de Haendelle e suas habilidades espetaculares com espadas longas e arcos!

Paussin sorriu animado. Sir Lenard pediu que ele e os soldados o seguissem e se dirigiu para o pátio. Chamou três soldados e conversaram um pouco. Uter se recostou a uma coluna do pórtico de acesso ao pátio. Lavië, Merlin e eu ficamos observando ao lado de Uter.
Os soldados sofienses trouxeram três alvos e os colocaram a uns 150m de distância de Paussin e dos outros e depois os entregaram arcos longos e aljavas com flechas. Paussin observou o arco, estendeu a corda e olhou para seus soldados. Pityo pegou uma flecha e armou o arco, Morn pegou duas flechas se afastou lateralmente de Paussin e armou seu arco de forma inclinada. Paussin pegou três flexas ficou entre Pityo e Morn, armou seu arco na posição horizontal, como uma besta, segurou as três flechas, olhou para os soldados e acenou com a cabeça. Pityo lançou primeiro e acertou o alvo à frente de Morn, este lançou quase que em seguida e acertou os alvos restantes. Paussim só esperou ouvir os ruídos das flechas acertando os centros dos alvos para lanças as suas que rasgaram as três flechas atiradas pelos soldados.

_Incrível! _exclamou Sir Lenard!

Os soldados, que tinham parado seus treinamentos para ver os elfos, ficaram a discutir entre si sobre o ocorrido.
Uter sorria, parecia viajar com a cena que acabara de ver. Desencostou-se da coluna e foi ao encontro de Sir Lenard e os outros. Fiquei observando de onde estava com Laviëh e Merlin. Uter apertou a mão de Paussin e dos soldados. Agradeceu a demonstração, se despediu de Sir Lenard e voltou com meus amigos para onde estávamos.

_Naldus, acredito que precises voltar para Haendelle e informar a seu mestre que o documento foi entregue.
_Sim, senhor!
_Ótimo, por favor, informe a mestre Hortinin que daqui a 15 dias movimentarei algumas tropas para mais uma batalha. Será nos arredores de Hertfordville. Tropas de Cornwall estão baseadas nessa cidade, vencendo a peleja a cidade será nossa. Gostaria de ter um reforço elfico nesta disputa.
_Estaremos lá! _respondemos em conjunto, Paussin e eu.
_Certo, assim seja! Merlin, acho que podes levar seus amigos de volta pra casa.
_Como desejar, General

Despedimo-nos de Uter, acenamos para Sir Lenard, que ainda olhava as flechas atravessadas por Paussin nos alvos. Dali mesmo, Merlin invocou seu feitiço de transporte e mais uma vez em poucos segundos estávamos de volta ao gabinete de mestre Hortinin.

_Realmente é uma aparição espetacular, gostaria de ter visto a cara de Mestre Haldamir ao presenciar a vossa chegada em Civitis!_ disse-nos mestre Hortinin, que estava sentado a sua cadeira, com um sorriso nos lábios.
_Não me esquecerei dessa imagem por um bom tempo... _ disse Paussin para o mestre.

O mestre continuou sorrindo e me perguntou sobre a visita a Vernes. Expliquei tudo que ocorreu. Enquanto eu falava, olhei para Lavië e percebi que dessa vez a viagem não pareceu perturbá-la. O mestre agradeceu pelo nosso serviço, abraçou Merlin e pediu para que Paussin avisasse aos demais soldados sobre o combate que se realizaria dali a quinze dias. Todos estavam saindo da sala e quando eu ia em direção à porta, mestre Hortinin me chamou.

_Irmão Naldus, fique mais um minuto, por favor!

Lavië me olhou. Eu acenei com a cabeça para ela e fechei a porta. Voltei e o mestre pediu que eu me sentasse.

_Irmão, tu sabes que a situação que iremos enfrentar a partir de hoje é muito crítica. Quando eu sair daqui irei avisar os demais mestres sobre o seu trabalho em Vernes. Provavelmente a mestre Linwë enviará parte de seus soldados para Vernes, não posso esperar muito das demais cidades, devido à distância que existe entre nós. Sei que tu és um dos melhores druidas entre os jovens, somente gostaria de saber uma coisa: entendes que podes não voltar para casa? Entendes que podes morrer?
_Sim, mestre! Entendo, mas como sempre me foi ensinado no druinato, Aqueles que têm o conhecimento do carvalho nada devem temer, pois sabemos que o altíssimo tudo pode e que Viviane nos protegerá!
_É bom saber que tens fé, irmão, vamos precisar de muita. Viviane nos alertou que suas lágrimas não serão suficiente para acalmar os nossos corações nesse momento. Vá Naldus, descanse um pouco e visite sua família, acredito que pegarás a janta se for logo!

Sorri para o mestre, ele afagou meus cabelos, me levou até a porta e antes de eu partir me disse:

_Cuide bem de Lavië, ela precisa muito de ti!

Provavelmente minha expressão de indagação foi imediata, pois logo o mestre completou:

_Converse um pouco com ela, tu entenderás! Namárië!
_Namárië, mestre!

Segui dali até minha casa e o perfume de torta de amoras sendo assada foi como uma poção de ânimo e mais ainda quando vi a alegria de minha mãe ao abrir a porta e me ver.
(continua)

sábado, 2 de agosto de 2008

Capítulo IX - Visão de um diálogo

O sol refletia seus raios nas águas do Grande Lago, parecia que as águas adquiriam um brilho dourado incomum. Sentada sobre uma grande pedra, uma mulher repousava seus pés dentro das águas. Sua túnica alva e seu pequeno manto azulado marcavam a paisagem completamente verde da vegetação. Em suas costas um par de asas de borboletas desaparecia. A mulher deita sobre a pedra, uma brisa um pouco mais forte fez seus cabelos esverdeados balançarem e suas orelhas pontudas ficaram à mostra. Deitada ela olhava para as copas das árvores próximas, as folhas dançavam com a brisa.

Uma luz azulada e intensa surgiu próxima a pedra que a mulher estava deitada. Uma forma aparentemente humana surgiu de dentro do foco de luz, uma silhueta feminina com três pares de asas com penas brancas e cinzas que se abriram imponentes. A mulher vestia uma túnica em tons azulados e uma capa arroxeada presa por uma jóia dourada em seu ombro esquerdo. Cabelos lisos e de um tom lilás intenso, seus olhos tinham a mesma cor. Seu semblante era extremamente belo, porém não parecia estar feliz, demonstrava um certo desprezo por estar ali.
A delicada mulher deitada sobre a pedra, apóia-se sobre os cotovelos levantando um pouco seu tronco e olhando calmamente para a outra que acabara de chegar diz sem parecer preocupada:


_Mab, minha querida irmã, imaginei que iria me visitar hoje! Faz um bom tempo que não nos vemos, desde que me contaste do teu desejo de ser... Como se diz? Ah, Deusa de Celtiland!
_Viviane, deixe o sarcasmo por minha conta, ele não combina com tua personalidade, muito menos com esse teu rostinho pueril e gentil! _disse Mab em um tom querendo parecer mais calma do que realmente estava. _ Desde que comentei contigo sobre a minha vontade...
_Tua vaidade, queres dizer, querida irmã? _interrompeu Viviane. _ Esse mal já esteve em nosso meio mais de uma vez e sabes como costuma terminar...
_Para os tolos que erraram em suas ações! O portador da Luz tentou tomar a Cidade Celeste, achou que um número de anjos poderia dar conta de um motim, pobre tolo! E mais tolos ainda foram os pobres serafins que se apaixonaram pelas filhas dos homens o que conseguiram com isso? Nada! Apenas engrossam o caldo dos companheiros do primeiro arcanjo caído! Não sou como eles! Tenho um domínio onde o Altíssimo mais presa, entre suas criaturas...
_Não vejo diferença entre tu e os demais! A vaidade é a mesma! Estás corrompida pela vontade de ser mais importante que o altíssimo! Sua missão era simples: Proteger os Humanos e os Drouws de Celtiland, preparar o caminho para que a palavra do Filho do Altíssimo chegasse aos corações de seus protegidos, ao invés disso, permitiu que a discórdia fosse semeada mais do que o necessário nos corações deles e tenta se fazer Deusa! Não consegue nem ser mãe para eles! Suas brigas e intrigas me parecem um reflexo das tuas falhas para com...
_Como me acusa de falhar? Como comparas as ações dos meus seguidores a mim mesma? Se assim o fosse, todos os Anjos protetores de humanos teriam falhado! Guerras eclodem sobre esse solo desde que o jardim do Édem foi fechado! Esqueces também que tens um norte inteiro de arrogância que não consegues diminuir ao longo dos séculos? Não és tão perfeita assim, Viviane!
_Meus filhos adotivos ainda têm muito a aprender, principalmente os do norte, sei que com a palavra do filho do Altíssimo e sua presença em nossa ilha essas atitudes tenderão a zero...
_Sonhe “Senhora do Lago”! Não deixarei Celtiland! Essa ilha é minha, e esses povos são meus! Acreditas mesmo que me assusta arquitetando essa aliança com Santa Sofia? Suas conversas com Maximiel, me deixaram em alerta! Percebi que o interesse de Uter seria usado para tentar me derrotar, pois te digo Viviane, Não descansarei um só minuto até ver essa praga sofiense fora de minha ilha! E Maximiel que fique onde está, os humanos de santa sofia já são o bastante para ele! Não precisa dos meus!
_Percebes como falas? Não pensamos como tu! Maximiel hoje auxilia o Ungido no cuidado dos sofienses, os ensina a serem pessoas melhores, ele não é Deus dos humanos, tu que estás tão envaidecida que não consegue ver a diferença! Mab, te peço de novo, abandone essa idéia, muito sangue inocente já foi derramado, é isso que queres? Ver teus protegidos sofrerem por tua causa?
_Eles só me defendem quem tem de parar são os sofienses, e como tu estás ao lado deles agora, não me responsabilizo pelo sangue elfico que lavará Celtiland!
_Tentei mais uma vez, não escutas! No final sabes o que o Altíssimo fará!
_Ele nada pode fazer em um lugar que não acreditam nele!


Viviane parecia gélida suas orelhas caírm e seu semblante ficou duro.
_Não conseguirás tal feito, não se depender de mim!
_Não temo a ti, e muito menos essa tua espadinha. Uter não tem o coração puro para empunhá-la em sua magnitude, essa tua ação me parece mais um desespero para tentar me deter, sinto que não conseguirás muito!
_Acredito que tua visita se encerra aqui, querida irmã!
_Sim, Viviane, só apareci para dar-te um oi, ou como dizem seus pequenos:Aiya!
_Aiya, Mab e Namárië!


Uma luz azulada voltou a envolver Mab que abriu suas asas novamente e desapareceu junto com a luz. Viviane sentou-se na pedra, balançou um pouco seus pés dentro da água do Grande Lago e em suas costas, agora apareciam três pares de asas com penas alvas como a neve que cobria parte do solo ao redor do lago. A Dama do Lago abriu-as e de um movimento alçou vôo em direção ao céu desaparecendo.


Uma voz longe ecoava: Lenwo... Lenwo... Lenwo...
_Lenwo, será que poderias ao menos fingir que prestas atenção nas coisas que te digo? _ Lavië estava parada e séria me olhando enquanto tinha um pedaço de pão em sua mão esquerda. _Estou a um minuto te chamando, parece que dormes!
_Estranho parecia que eu estava em outro lugar...
_E estava, Naldus! _disse-me Merlin sorrindo. _ Tu também estavas vendo o dialogo...
_Que diálogo? _perguntou a linda elfa parecendo não entender nada. _ Vós estiveis aqui desde que saímos do salão principal e tirando aqueles cinco druidas de Dorvus que estão ali no canto, não há mais ninguém nessa copa! Estais a prestar atenção na conversa deles?
_ Não Lavië, eu tive uma visão nesse instante, foi como se eu estivesse na margem do Grande Lago...
_ E ele viu um diálogo entre Viviane e Mab... _disse Merlin que logo em seguida bebeu o que sobrava do vinho em sua caneca.
_ Nossa que legal! Conte-me como foi, tu podes não?
_Acho que não tem mal nenhum nisso... O que acha Merlin?
_Eu a deixaria curiosa...


Merlin mal terminara a frase e já tinha recebido um tapão de Lavië. Os dois começaram a rir, o que chamou a atenção dos druidas que estava no outro canto da copa. Após os dois se recomporem eu contei a minha amiga como fora a visão. Assim que terminei Mestre Hortinin entrou na copa e se aproximou de nossa mesa.


_Não preciseis levantar! _ disse, ao perceber que iríamos ficar de pé. _ Só vim dar um recadinho pra vós e pedir uma ajuda de Merlin, se puderes, amigo...
Merlin sorriu. Minha amiga e eu ficamos interrogativos.


_Mestre Linwë propôs que a mensagem fosse entregue pelo irmão Naldus e eu pretendia pedir que Merlin também fosse contigo, já que o amigo conhece Uter, imagino que sendo assim seria mais fácil de encontrá-lo ainda hoje!
_Certamente Mestre, acompanharei Naldus, ou melhor, farei com que ele chegue tão rápido quanto chegou a Civitis!
Senti um frio na barriga, lembrando da nossa pequena invasão em Civitis.
_Ótimo! Naldus, já falei com Paussin, ele irá contigo fazendo escolta e desta vez levarás Lavië contigo, um rosto feminino ajuda nessas horas! _mestre Hortinin falou isso e piscou para a minha amiga que sorriu com a surpresa do pedido. _ Bem não percais tempo, encontrem Paussin e os outros na minha sala, podeis partir de lá sem muito alarde!
Despedimos-nos do mestre e fomos para a sala dele e em minha mente não saia a sensação de ser transportado novamente pelo feitiço de Merlin e querendo que isso não virasse rotina.
(continua)

Capítulo VIII - A roda das decisões

Com os pratos cheios, sentamo-nos á uma das mesas do grande refeitório e por entre bater de talheres e outros ruídos, Paussin olhou-me com um ar pensativo claramente descrito em seus olhos castanhos.
_ Lenwo, interessante como as coisas caminham nos eixos e só nos damos conta quando estamos integrados aos eventos...
_ Falas de nossa jornada ter sido curta quando esperávamos demorar mais de uma semana, não é? _ Perguntei, imaginando a resposta.
_ Exatamente! Tudo tão rápido, esta madrugada estávamos descendo o rio e já estamos de volta, a reunião acontecerá daqui a cinco dias, poderia ter se estendido o prazo se não tivéssemos ido tão rápido ao nosso destino! Fico fascinado com essas obras do Altíssimo, tão perfeitas como ele...




Sorri para meu amigo ao mesmo tempo em que percebia o olhar interessado de nossos dois companheiros. A conversa se estendeu mais algum tempo após termos comido e ao cair da noite, os soldados voltaram para a Casa das Armas e eu voltei para o meu quarto.




***




Ao longo daquela semana a sede da ordem foi se enchendo de cores e rostos novos, os mestres das outras seis cidades elficas de Celtiland chegavam com o passar dos dias. Mestre Lerat de Kornuan foi o primeiro a chegar, no dia seguinte a minha viagem. A Mestre Linwë de Vinyvass chegou no dia seguinte acompanhada de outra mestre, Giraen de Ilúwën. No quarto dia de espera a mestre Eámanë de Nátulien se fez presente e no nosso ultimo dia de espera, os mestres das cidades do norte de nossa ilha chegaram. Mestre Haldamir de Civitis e mestre Amroth de Dorvus.




Todos presentes e com suas comitivas, não me recordava do ultimo colóquio que tivesse deixado nossa cidade tão movimentada, Mestre Hortinin convida todos os mestres e seus auxiliares para iniciar a reunião no salão principal de nossa ordem.
O salão estava despido de seus móveis, apenas as cortinas e as pedras de luz-contínua continuavam em seus lugares. No centro do salão, os sete mestres fizeram um circulo e sentaram ao chão, os auxiliares foram se sentando logo atrás e quando todos estávamos sentados havíamos formados círculos inscritos partindo dos sete mestres no centro para os demais que se seguiam, formando a roda das decisões como no início dos tempos, quando nossos povos habitavam pequenas aldeias e nossa ilha ainda era muito jovem.




Mestre Hortinin começou a falar:
_Irmãos, nos reunimos aqui, nesta roda das decisões, para discutirmos o conteúdo de nossa ultima mensagem de Viviane e com isso...




Um ruído estranho veio de fora. As cortinas balançaram com um vento repentino e Merlin, que se encontrava recostado a uma coluna, já no ultimo circulo da nossa roda olhou para a porta principal do salão. Olhei também esperando ver algo de diferente. As portas se abriram e o aralto adentrara o salão e anunciara:
_Senhor Lólindir Cirvatan, Príncipe de Cirtania!



Burburinhos encheram o salão, percebi a expressão de reprovação de Mestre Haldamir ao ver aquele homem alto com seus cabelos compridos e dourados, suas vestes detalhadamentes trabalhadas, em um tecido que eu nunca tinha visto, brilhante por si só, como se já não bastace a própria presença brilhante daquele homem.



Lólindir Cirvatan, nunca o vira antes, mas suas histórias, ou lendas, corriam Celtiland e alguns viajantes diziam que iam além do nosso mar. O pincipe Lólindir era um meio-elfo, sua mãe era de Dorvus, mas seu pai não era elfo, era uma das criaturas mais poderosas de nossa ilha, Áureo Drach, o dragão dourado do norte. Dragões assumem formas humanóides e podem viver entre qualquer povo sem que seja identificado como draconiano, todavia Áureo não escondia que era um dragão, e em especial, da raça dourada, a mais inteligente e justa de todas, uma linhagem que habita os quatro cantos de nosso mundo. Áureo tem um domínio entre Civits e Dorvus a cidade-estado de Cirtania. Da união muito incomum de uma elfa e um dragão, nasceu o Príncipe Lólindir.



_Desculpe interromper, mestre Hortinin, contudo o assunto a ser tratado nessa reunião diz respeito a todos os povos elfos de Celtiland e mesmo que alguns aqui não gostem, eu também faço parte desse povo!
_Toda razão, Irmão Lólindir, pode se juntar a nossa roda das decisões e acrescente suas idéias às nossas! _ Respondeu mestre Hortinin
O príncipe andou até o centro da roda e sentou ao lado de meu mestre



_ Iniciando novamente... Reunimos-nos aqui, nesta roda das decisões, para discutirmos o conteúdo da ultima mensagem de Viviane e tudo que a ela está ligado:
A profecia de 325 em curso, a vaidade de Mab, o avanço sofiense sobre Celtiland, e o que isso nos afeta. Primeiro tópico: a profecia de 325 em curso:
Como todos nós conhecemos, a profecia encontrada em nosso livro sagrado, dita como de 325 diz:



“contando três centos acrescido de mais um quarto
Ideologia definitiva marcada com sangue, pena e tinta
Ocupará seu lugar no coração dos povos
De nossas e outras terras, sem que escape um!”



Como é de conhecimento de todos os irmãos, a profecia está em curso e a ideologia referida é a palavra do Ungido que hoje se espalha por todos os povos que pertencem ao império Sofiense, sendo por acordo ou à força.
A profecia diz que todos os povos, sem exceção, terão a palavra do Ungido como ideologia máxima e isso se iniciou em 325 do calendário sofiense.



Todos ouviam em silêncio as palavras de meu mestre. Não estava em pauta a interpretação da profecia, ela já havia sido interpretada a muitos anos, neste momento, o que realmente nos interessava, era como lidar com ela...



_Algum ato polêmico nessas declarações? _Perguntou a mestre Linwë, que auxiliava mestre Hortinin.
Acenos de cabeça permitiram que o tópico fosse passado a diante e meu mestre prosseguiu:
_A vaidade de Mab. Na mensagem que nossa protetora, Viviane passou ao jovem irmão Naldus, ela declara que a vaidade de Mab corrompeu o coração de seus protegidos, humanos e Drows, para que estes a adorassem como uma deusa, esquecendo que o Altíssimo é o nosso Deus e Criador. Segundo a mesma mensagem, a atitude de Mab desencadeou a tomada de nossa ilha pelo Império Sofiense à força.
_Algum ato polêmico nessas declarações? _ pergunta a bela mestre Linwë de Vinyvass.

Burburinhos enchem o salão, olho para o lado e vejo Merlin observando atentamente a roda.
Mestre Amroth de Dorvus pede a palavra e prossegue:

_Sempre evitamos nos envolver em conflitos humanos, a efemeridade de suas vidas o fazem agir de modo tolo, como suas guerras, sejam elas por coisas materiais ou por motivos emocionais. Suas atitudes pueris nos fazem ter exércitos e armas, apenas para nos defendermos de um potencial ataque. O pior é que essas qualidades também podem ser aplicadas aos Drows, com o diferencial de que a vida deles é um pouco mais longa!
Mas a minha indagação é a seguinte: como posso fazer cessar essa sensação de joguete que paira sobre as cabeças dos cidadãos de Dorvus? Se for uma guerra humana e a vaidosa em questão é a protetora deles, o que isso implicará no meu cotidiano? Creio que essas perguntas também são divididas com mestre Haldamir!
O mestre de Civits acenou com a cabeça afirmativamente.



A elfa de cabelos arroxeados, mestre Linwë, pede a palavra e ao silencio de todos diz:
_Certamente, neste momento a guerra que já se encontra em um terço de nossa ilha é exclusiva dos humanos e tudo se deve a vaidade de Mab, contudo nós também moramos nessa ilha e nada impede que algum exército resolva nos atacar. É interessante ressaltar que existe uma linha tênue nesse assunto: até onde a nossa não interferência pode ser considerada como omissão? _ Meus olhos correram para Mestre Haldamir e ele também me olhava, demonstrando ter lembrado de minhas palavras quando estive em Civitis. _ Com isso o nosso debate entra no próximo tópico, o avanço sofiense e o que isso nos afeta! _ Terminou a Mestre de Vinyvass.



O príncipe dourado pede a palavra e depois de alguns burburinhos, principalmente entre os elfos do norte, mestre Hortinin acena positivamente para ele.




_Venho representando as pessoas que vivem sobre o solo governado por meu pai, sejam elas humanas ou elfas. Os interesses sofienses são políticos, mais precisamente os interesses de Uter, que expôs o direito de tomar posse da única colônia sofiense em nossa ilha e agora parece que a quer devorar de uma só vez! Falando de política, a uma semana atrás estive em Vernes para tentar entender como uma grande Cidade-estado se declara colônia sofiense de um dia para o outro sem a menor resistência. Fui recebido pelo Conde Lenard, o regente da cidade, hoje com o título de governador hierárquico.
Ele me falou dos planos de Uter para Celtiland: Unificar e tornar-se o rei da ilha e por seguinte, regente sofiense vassalo do Imperador. Caríssimos, a idéia de unificar Celtiland como um único país vem por séculos sendo desejo de muitos, o problema sempre foi quem deveria ser esse monarca. Esbarramos de um lado no egoísmo humano e sua sede de poder, no outro na arrogância elfa, especificamente do Norte, (a comitiva do norte tentou cortar o raciocínio de Lólindir, mas não conseguiu) se colocando sobre um pedestal de perfeição. Sir Lenard aceitou a proposta de Uter, tornar-se cidade-estado pertencente ao Império Sofiense, receber incentivos culturais e materiais do império e não teriam nenhuma mudança governamental na estrutura existente abaixo do Conde. As condições “pedidas” por Uter eram:
que o regente da cidade-estado de Vernes aceitasse a nomeação de Uter Pendragon como Rei de Celtiland, regente Sofiense.
Como cidade sofiense, que o imperador fosse aceito como regente supremo do império, as leis do império fossem aprovadas e colocadas em prática.
Que a religião sofiense fosse considerada oficial na cidade-estado.



_E o que aconteceu com o culto a Mab em Vernes? _ Perguntou a mestre Eámanë
_Sir Lenard disse que tinha um pequeno grupo de Mabs em Vernes, ele mandou uma carta de “convite de retirada”. Aparentemente eles saíram da cidade. Como entramos no campo religioso e isso recai sobre a nossa profecia de 325, gostaria de deixar agora a posição oficial de Cirtania quanto ao assunto:
A cidade-estado de Cirtania pretende se unir ao Império Sofiense. O pequeno grupo Druida, chamados pelos mestres de Civitis e Dorvus, como Druinato independente, já estiveram em Santa Sofia na época das trocas culturais, das quais poucos de vós participaram _ O príncipe dourado disse isso fitando mestre Haldamir e mestre Amroth, que apenas o ignoraram. _ e estão prontos para criarem uma ordem religiosa sob as ordens do Pontífice de Santa Sofia. Não há Mabs em nossa cidade, mas se existissem, eles também seriam convidados a se retirarem!



_Interessante a posição de Cirtania! _ disse a mestre Gilraen _ gostaria de saber se poderíamos aproveitar a declaração do príncipe Lólindir e fazermos o mesmo?
_Ainda não! _ interrompeu mestre Haldamir. _ Temos aqui um visitante que sabe algo mais a respeito de Uter! Senhor Merlin, não quereis dizer algo relevante?



O jovem mago não pareceu surpreso com a pergunta, apenas olhou ao redor e viu que todos olhavam em sua direção. Seguiu falando:
_Imagino que o Mestre Haldamir Yondo-Linwëln se refere à Excalibur!



Muitos começaram a falar entre si e o salão se encheu de vozes, era uma surpresa para todos que Excalibur também fosse parte do tema! Merlin esperou que os ânimos se acalmassem e então continuou:



_A lendária espada, que é guardada por Viviane, será entregue a Uter, como sinal de que ele deve unificar a ilha em um só país!
_ Merlin, a lenda diz que a espada seria entregue a pessoa tão pura de coração que conseguiria lançar paz aos quatro cantos de nossa ilha! Como pode ser entregue a alguém que iniciou uma guerra para dominar nossa casa? _ Perguntou a mestre Gilraen.
_ Compreendo sua indagação, contudo adianto que Uter pode não ser essa pessoa mas alguém que nos levará a ela! Infelizmente, mais do que isso eu não sei, apenas que Vivine dará a espada celestial para Uter fechar o ultimo e decisivo acordo para unificação da ilha! É só o que sei!
_Não sei, mas acho que nosso mundo tem estado de ponta cabeça! _ Falou em tom agrecivo o mestre de Civitis. _ Nossa protetora dá a espada celestial para um general sofiense unir as cidades-estado de nossa ilha, um druida usa feitiços de Mab para entrar na minha ordem, contenda de humanos agora nos afetam de verdade e pra melhorar, Druidas se transformando em sacerdotes humanos?
_ Não é bem por esse prisma que devemos olhar, mestre... _Eu disse para o espanto da maioria que não esperava que um jovem druida falasse o que pensa num colóquio oficial. _ O conflito é Humano hoje, mas não sei até que ponto continuará humano... Amanhã mesmo, Mab poderia incitar os drows a participarem contra Uter. As batalhas podem vir bater á nossa porta. Qualquer um poderia pedir uma posição e nos incluir na guerra contra nossa vontade! Devemos ficar esperando que alguma tropa se alinhe na frente de nossas muralhas e ponha em risco nossas famílias? Não é melhor aceitarmos que nossa Protetora está a zelar por nós e nos mostrando a solução mais fácil, simples e menos dolorosa? Não está na hora de deixarmos cair as máscaras que ainda são ostentadas e querem apenas passar ao resto do mundo que somos perfeitas criações divinas e estamos acima de qualquer outro ser? Somos todos criaturas do Altíssimo e todos filhos dele, minha vida eterna não me faz mais perfeito que um humano! Ao invés de julgar as ações que levam nossos irmãos a agirem assim, não seria a hora de ajudarmos a serem melhores? Temos séculos de sabedoria e o que fazemos com ela? Trancamos em nossas ordens e não deixamos que saia das muralhas de nossas cidades!
Quanto a Druidas virando sacerdotes sofienses, acredito que a união do druinato com o sacerdócio de Santa Sofia, ou melhor, o Sacerdócio do Ungido, seja a vontade do altíssimo, se não a fosse, o ultimo parágrafo da profecia não faria sentido! Prefiro empunhar meu cajado hoje e saber que famílias estarão a salvo na minha cidade, a esperar que alguma tropa, seja qual for ela, venha cercar minhas muralhas!



_Jovem, não teria dito melhor! ._Disse-me o príncipe Lólindir _ Como se chama?
_Naldus, senhor.
_Naldus, obrigado por suas palavras sei que elas foram importantes nesse momento!
_Irmãos! _disse o mestre Hortinin _ Precisamos decidir nossa posição perante os eventos e acho que temos condições de fazer isso agora!



Os mestres acenaram positivamente. A mestre Linwë então anotou algumas ultimas linhas em seu papiro e disse por fim:
_ A roda das decisões fará a reunião final, pedimos que apenas os mestres fiquem no salão e os demais saiam, quando terminarmos chamaremos a todos de volta para o esclarecimento final!



Todos os demais druidas se levantaram e saíram. Eu já me encontrava em uma contra sala quando sinto puxarem minha túnica. Virei-me e vi Lavië, minha colega de druinado, com seus cabelos vermelhos e olhos como de águas doce, com um sorriso no rosto falou:
_Tu andas muito impertinente, não Lenwo? Soube que teve uma conversinha nada amigável com o Mestre Haldamir a cinco dias e hoje rasga o silêncio dos jovens colocando sua opinião dentro da roda das decisões, não recordo de algo semelhante! Hihihiihi.



Sorri para ela. Realmente achei graça da minha “impertinência” ou ao menos ela o fazia parecer engraçado.
_ É, provavelmente tenho estudado muito contigo e tu tens me contaminado com tuas ações nada ortodoxas!
_ Duvido, isso é apenas o verdadeiro Lenwo mostrando a que veio! Ah, também fiquei sabendo que agora és amigo de Merlin. Tenho visto vós a conversar algumas vezes no jardim, cuidado pra fama não te subir à cabeça!
_Lavië, nem todos são como tu! Não quero fama, apenas quero ser o servo que sempre fui, se acabei por fazer amizade com Merlin, foi só por termos interesses em comum e neste momento, nosso interesse é paz para Celtiland!
_Como sempre, falando bonito, quase um poeta! Lenwo, tem momentos que eu acho que Haendelle é pequena demais para conter-te!
_Disparate teu, querida amiga!


Conversei bastante com Lavië, minha colega se entusiasmava contando o que aprendera no último mês. Ela havia estudado sobre o sacerdócio sofiense. Nos últimos anos nossa ordem havia criado um grupo de estudos sobre o assunto para os druidas que se interessavam e o interessante é que a procura foi grande, uns 70% por assim dizer. Minha colega fazia parte eu tinha sido dispensado por ter participado dos colóquios dos visitantes de Santa Sofia.
O tempo passou rápido, só me dei conta disso quando ouvi o chamado para que voltássemos ao grande salão para a consideração final.


Depois que todos estavam novamente sentados, a Mestre Linwë pegou o seu pergaminho e leu em alta voz:
_ Considerações finais sobre a primeira roda das decisões da era sofiense do ano lunar de Quimim em seu ultimo quarto. Assunto resumido:
Desdobramento da profecia de 325, suas conseqüências para os humanos e para nós.
Mensagem de Viviane ao Jovem druida Naldus e uma possível intervenção elfica sobre os conflitos sofienses.
Tendo como argumentos os assuntos abordados os mestres das 7 cidades elficas, mais o príncipe da cidade mista se reunirm para decidir se haveria intervenção elfica nos conflitos sofienses em nossa ilha.
Foi proposta a seguinte ação:
Enviar um acordo propondo ao General Uter a união das sete Cidades-Estado Elficas e da Cidade-Estado mista ao Império Sofiense seguindo os moldes da proposta feita pelo Príncipe Lólindir Ciryatan de Cirtania.
O acordo:
Estamos de acordo em anexar as cidades-estado de Kornuan, Vinyvass, Ilúvën, Nátulcien, Dorvus, Civitis, Haendele e Cirtania e assim somar nossas tropas ao exército sofiense, que em solo Celta está sob o comando do General Uter Pendragon de Santa Sofia.
Quanto a transição religiosa, as Cidades-Estados pedem que seja concedido um tempo de transição para que tudo seja feito em ordem.

Sobre a votação
Os Mestres e o Príncipe participaram da votação a favor do acordo, para que todos saibam as opiniões de seus mestres o resultado será discriminado agora:
Mestre Gilraen Yende-Eledhwen: favorável
Mestre Eámanë Yende-Amandil: favorável
Mestre Linwë Yende-Alcarin: favorável
Mestre Lerat Yondo-Vardamir: favorável
Mestre Hortinin Yondo-Tulcakelum: favorável
Mestre Haldamir Yondo-Linwëlin: desfavorável
Mestre: Amroth Yondo-Ancalin: desfavorável:
Príncipe Lólindir Ciryatan: favorável
Contando seis votos favoráveis contra dois desfavoráveis a proposta foi aprovada pela roda das decisões e será enviada ao general Uter Pendragom hoje.
A roda das decisões é encerrada agora!


Muito barulho se seguiu ao final da leitura, A mestre sorriu e junto com todos se levantou. A vi falar algo com mestre Hortinin, mas não entendi o que seria. Percebi o descontentamento dos mestres do norte e senti uma mão repousar sobre meu ombro.
_ Naldus ainda temos muito trabalho por aqui! _Disse-me Merlin sorrindo.
_ Verdade... todavia preciso comer algo antes de pensar em mais alguma coisa!
O jovem mago apenas riu. Vi que Lavië nos olhava, então acenei para que nos encontrasse na copa e fomos para lá.



(continua)

Capítulo VII - A entrega da mensagem

Realmente entrar em uma casa sem ser convidado não agrada em nada e foi o que literalmente fizemos, aparecemos no meio do salão principal da Ordem de Civits sem qualquer aviso prévio. A ação imediata após o susto dos druidas que lá estavam foi cercar-nos e apontar-nos seus cajados de forma não muito amistosa.
Nós quatro ficamos quietos, procurei ver se o Mestre Haldamir estava por perto. Não demorou muito tempo e ele veio em passos largos e uma expressão não muito contente no rosto, parou a nossa frente e perguntou:


_O que pensas estar fazendo Naldus? Como entras assim em nossa casa? E ainda fazendo uso de Magia Arcana? Só os discípulos de Mab sabem se transportar dessa maneira absurda!
_Desculpe-me Mestre, mas o motivo por minha indelicadeza é maior que qualquer protocolo. _ Disse, quase sem jeito. _ Venho entregar uma mensagem de Viviane, infelizmente o Pombo que mandamos endereçado ao senhor não chegou e como a mensagem é urgente, achamos uma maneira de entregá-la, mesmo sendo tão grosseira...


Um ar de indagação percorreu-lhe a face. Vendo isso estendi minha mão com o papiro lacrado com o selo. Mestre Haldamir o pegou e com um aceno de cabeça ordenou que os outros druidas baixassem seus cajados. Ele leu o papiro que logo em seguida se queimou enquanto era solto pelo mestre, se consumindo antes mesmo de tocar o chão do salão.


_O que quereis que façamos? _ Perguntou o mestre com um tom um tanto soberbo.
Havia me esquecido de como um elfo do norte poderia ser arrogante. Não viam os humanos como irmão, ao menos não demonstravam, se quer tentavam entende-los. Achavam que por serem mortais estavam fadados a tolices inadimicíveis, como combater seus semelhantes por motivos mais fúteis possíveis e ao que me pareceu, a mensagem de Viviane não pareceu abalar esse sentimento muito claro em Mestre Haldamir.


_Não viemos pedir-lhes nada, Mestre, Apenas entregar a mensagem. _Disse isso em tom firme, não demonstrando meu desapontamento, afinal não se tratava apenas de uma guerra humana como tantas outras que acabavam nos afetando, era o desdobramento da profecia de 325, Mab tentava se impor como deusa da Ilha, Uter trazia consigo a Cruz do Ungido, Viviane nos alertava para o que viria a acontecer...


_Só mais umas palavras, visto que já quebrei o protocolo entrando sem ser convidado e como o senhor mesmo disse, usando uma Magia de conhecimento dos discípulos de Mab. _Continuei, mesmo aos olhares curiosos de Paussin e os outros. _ O Senhor tem o conhecimento da Profecia de 325, portanto sabe que é inevitável o domínio do ungido sobre nossa ilha, Viviane nos diz que o inicio dessa nova era é agora, infelizmente com essa guerra humana. Como nos foi ensinado, O mal é necessário, mas ai daquele que o fizer! Não queremos que o senhor entre em uma guerra humana, mas que apenas defenda os interesses de nosso povo, de Viviane e do Altíssimo, o senhor tem duas opções, se abster ou participar! O problema de se abster é que pode ser considerado como apologia aos interesses de Mab, mas eu não posso julgá-lo, isso fará o Ungido, no dia que o senhor estiver frente a frente com ele!

Percebi que Paussin me olhava um tanto assustado. O mestre me olhava fixamente e eu continuei:
_Encontrei Merlin em Vernes, Ele é um jovem mago que decidiu deixar de servir a Mab e se pos aos serviços de Viviane. Ele que me deu o Papiro com a magia de transporte. Merlin também me disse que Viviane pretende entregar Excalibur a Uter...

Deixei de ser o único a falar, meu monólogo foi quebrado com burburinhos e expressões de surpresa. Excalibur é a espada mais poderosa sobre nosso mundo. Lendas dizem que ela foi forjada para o Arcanjo Hamariel auxiliar Miguel a derrotar o portador da luz e os caídos. Após a Derrota do Portador da Luz, Hamariel teria entregue Excalibur para Viviane que a guardaria até o aparecimento do escolhido. As lendas param nessa passagem, ninguém nunca tinha visto Excalibur e os Druidas que Viviane brinda com suas aparições nunca perguntaram diretamente sobre a lendária espada, assim como ninguém sabe se o escolhido seria humano ou elfo.

_Um humano e sofiense? Viviane entregaria uma espada celestial para um humano e extrangeiro? _Disse em tom irônico, Mestre Haldamir.
_Como o senhor mesmo disse, a Espada é celestial e não Celta, assim como não pertence a Viviane, ela só a guarda. O Altíssimo decidiu o futuro da espada e como o ungido dissera: “Quem vive pela espada morrerá por ela!” Uter receberá Excalibur, a escolha não é nossa e não nos cabe julgar! A mensagem já foi entregue, senhor, precisamos voltar a Haendelle e informar Mestre Hotinin da conclusão de nossa missão!

Ainda percebi o olhos castanhos de Paussim a me mirar. O mestre Druida não disfarçou seu descontentamento em ter de me dar razão sobre o que eu havia dito, acenou com a cabeça para um druida próximo que o trouxe papiro pena e tinta. Escreveu rapiidamente sobre o papiro, apoiado na coluna mais próxima a nós, enrolou e lacrou derretendo um pouco de cera em uma tocha que estava ao lado para logo estampar o selo de Viviane. Entregou-me o papiro e disse:
_Está entregue! Daqui a 5 dias nos reuniremos em Haendelle, Se só faltava Civitis receber a mensagem, então todos as outras cidades já devem mandar seus representantes. Como manda o protocolo, após uma mensagem urgente, há uma reunião na cidade de origem da mensagem, diga a Hotinin que estarei lá!
_Obrigado! _Respondi sem querer me alongar apenas me despedi. _ Namárië!
_Namárië! _ Todos no salão responderam.

Peguei o papiro que Merlin havia me dado, li novamente suas palavras e mais uma vez a luz azulada nos envolveu. No segundo seguinte estávamos no pátio de nossa ordem e para nossa surpresa, debaixo de uma árvore, sentado à sombra estava Mestre Hotinin acompanhado de Merlin. Os dois olhavam em nossa direção fomos ao encontro deles
_Aiya! _ dissemos.
_Aiya! _ disse-nos o Mestre
_Oi _ disse-nos Merlin

Entreguei o rolo de papiro para o mestre e enrolei o papiro encantado que começou a queimar. Larguei-o e ele queimou antes de tocar o chão.

_Esperávamos a vossa chegada. _disse o Mestre com um sorriso. _ Merlin chegou a pouco e contou-me sobre o vosso encontro em Vernes.
O mestre desenrolou o papiro e depois de ler e deixa-lo queimar olhou-nos e disse:
_Temos 5 dias.
Merlim olhou para o mestre e disse:
_Uter não decidirá essa batalha em 5 dias, também não a perderá nesse espaço de tempo, tudo segue como deveria seguir, agora só nos resta aguardar a reunião, mesmo que eu não seja bem-vindo...
_Merlin, tu estás em nossa casa, serás sempre bem-vindo, aqui é Haendelle, onde todos os irmãos, sejam elfos ou humanos são bem-vindos! _ Disse isso a Merlin sorrindo.
Paussim se aproximou do Mestre e disse:
_Senhor, permissão para dar a missão como cumprida, senhor!
_Concedida, todavia não voltareis ao forte antes de comer algo!

Um sorriso apareceu nos rostos dos soldados e no meu também, correu um dia inteiro e nada havíamos comido. Fomos para dentro da sede da ordem e na minha cabeça, entre batatas e saladas, pensava também sobre como se daria a reunião dali a 5 dias...
(continua)

Capítulo VI - Encontro em Vernes


Nosso pequeno barco se aproximada do atracadouro do rio. O porto era do outro lado da cidade. Um homem tomava conta dos barcos ali atracados perguntei o preço por duas semanas de atracagem, ele sorriu e me disse:
_Senhor, não sei se vosso barco ficará aqui por duas semanas sem ser requisitado pelo exercito sofiense!
_Ahn? Bem, nesse caso o senhor compraria o berço?
_Sim, mas não posso pagar mais que duas moedas de cobre!
_Naldus, é melhor pegar essas moedas mesmo, nossa volta pode ser até por terra!_Disse-me Paussin em tom baixo.
_Feito!_Respondo ao homem.


Ele me deu as moedas e seguimos em direção ao portão Oeste da cidade. Andamos uns 600 metros e ouvíamos que a agitação tomava conta da cidade. Fora de seus portões, soldados sofienses se reuniam em grupos de mais ou menos quinze e o ir e vir de mais soldados pelo portão era maior que o de cidadãos.
Entramos sem problemas pelo portão e já na rua principal vimos que a cidade estava tomada por soldados, parecia que uma cidade sofiense tomara o lugar de Vernes. Estandartes Brancos com o brasão do Império eram vistos a todo instante, todavia, mesmo com essa intervenção militar na cidade, a população parecia viver seu cotidiano como se fosse um dia normal.
Seguimos a rua principal que cortava a cidade de oeste a leste, levamos meia hora no trajeto até o porto marítimo, já do lado de fora do portão leste. Não nos surpreendeu ver uma esquadra de 40 naus entorno do porto.

_Lenwo, acredito que teremos dificuldades de sair daqui com essa intervenção sofiense em Vernes. _Disse-me Paussim meio desanimado.
_Calma amigo, para tudo há um jeito, as providências do Altíssimo nos guiará!
Seguimos até o porto, e logo próximo ao píer, dois soldados impediram nossa passagem.

_Senhores, o porto está fechado para viagens não militares! Ordens do Mestre Uter!
Nós quatro nos olhamos como quem procura uma alternativa e neste instante vejo um jovem passar pelos guardas. Ele vestia uma túnica em tons marrons e um manto quase negro cobria-lhe parte do corpo, seus cabelos castanhos tinham ondas incomuns e vários anéis adornavam seus dedos. Achei aquela figura familiar, mas não me recordava de ter-lo visto antes. Um vento soprou nesse momento e minha orelha direita sentiu a brisa reverberar um nome quase que melodiosamente... Merlin... Olhei para Paussin e exclamei:
_Acho que Viviane me mostrou o caminho!

Sai dali em direção ao jovem deixando para trás meus companheiros indagativos. Chegando perto do Rapaz perguntei:
_És o Merlin?
Ele virou em minha direção, parando e me olhando como se estivesse atravessando minha alma com o olhar.
_Sim, Lenwo, sou eu, ou preferes que eu o chame de Naldus, caro Druida?
_Imaginava que saberia meu nome também, embora seja a primeira vez que nos encontramos.
_Verdade, mas a Dama do Lago já havia me contado a respeito de um Elfo Druida de cabelos azuis e como percebe, não existem muitos nessa cidade! Também sei que precisa ir à cidades elfica Civitis, certamente pelo mar seria mais rápido, todavia Uter já se encarregou de sitiar a cidade e tu e teus amigos não poderão sair daqui como planejavam!
_Como iremos então? Sabes alguma maneira mais rápida e segura do que ir pelo caminho habitual?
_Sim, já o tenho preparado, chame teus amigos e mostrarei!

Fazendo sinal afirmativo, voltei ao encontro de Paussin e os demais e voltamos para a cidade com Merlin. Ele nos levou até uma casa. Dentro era pequena, uma espécie de biblioteca com umas tranqueiras e frascos de vidro que pareciam compotas estranhas e dividiam lugar com uma cama no canto da sala. Ele foi até uma mesa e pegou um pequeno rolo de papiro. Veio em nossa direção e me entregou o rolo.

_Essa é a maneira mais rápida de chegar a Civitis!
Desenrolei o papiro e vi que havia uma espécie de feitiço nele.
Vendo não só o meu rosto interrogativo, mas sim o de todos, Merlin nos diz:
_Amigos, é um feitiço de transporte. És Druida Naldus, para ti será como invocar o poder do Altíssimo através da Dama do lago!
_É só ler? E quantas vezes pode funcionar?
_É só ler e vai funcionar até que chegueis a Haendelle novamente, depois disso o papiro se queimará como uma mensagem flamejante!
_Interessante! _Exclamou Morn.
_Bem amigos, acredito que deveis ir rápido, o tempo é precioso. Naldus, avise a Mestre Hortinin que o Duque Cornwall defende os interesses de Mab, ele luta contra Uter e o seu avanço sobre Celtiland. O Mestre sofience só não tem conhecido derrota nas batalahs que travou e a tomada de Vernes parece ser só o começo. A Dama do Lago, ou como vós chameis vossa protetora, Viviane, Pretende entregar Excalibur a Uter. É só o começo do que parece ser a derrocada de Mab e ascensão do Ungido em nossa Ilha!
_Merlin, a profecia de 325 está em curso, é lamentável que seja por espada e por motivos de orgulho de uma protetora que quer ser vista como deusa!
_Deveis ir amigos, nos veremos em breve novamente!

“Namárië!” Respondemos e ali mesmo, ao ler as palavras do papiro, meus amigos e eu fomos envoltos em uma luz azulada e quando pensamos ainda estar na sala de Merlin, já estávamos dentro do salão principal da ordem Druida de Civits.
(Continua)

Capítulo V - Viagem à Vernes

O barco corria sobre as águas do rio. Não me sentia cansado ainda, então observava atento cada ruído nas margens. Paussin levantou da proa e sentou-se ao meu lado.



_Lenwo Yondo-Calmcacil! _ Falou com uma voz Grave meu nome, imitando um professor que sempre percebia quando nos dispersávamos.
_Hahahaha! Parece que foi ontem, creio que também faz muito tempo que não me chamam pelo nome completo! E a ti, Paussin Yondo-Calion?
__Hahaha! A mim sempre chamam, ou esqueces que como soldado não me fazem esquecer o nome completo? Acho que é o silêncio da noite. Acabei de me lembrar de quando discutíamos as formações dos nomes. Lembra quando tentávamos montar paralelos com nomes humanos?
_Sim e no final a gente não chegava à conclusão nenhuma, não sabíamos se a mania de Yondo ou filho de, era Elfica ou humana, todavia, me parece pomposo, como muitos anciões fora do templo gostam de ser, hehehehehe!
_Isso me faz pensar no Burgo-mestre Rauthar, quando se apresenta: Rauthar Yondo-Rauthar! Não entendo como um pai dá o mesmo nome para o filho! Hahahaha!
_Deve ser uma tentativa de imortalizar o nome, no final, sempre lembrarão de algum Rauthar, já não bastacem a longevidade de nossos semelhantes! Mas diga, Papai... E a sua filha? Vanimë deve estar uma moça? A ultima vez que te visitei ela estava quase da altura da Alassë!
_Sim, está e quando a vejo percebo como o tempo passa, irônico para um elfo, todavia é verdade... ela tem demonstrado interesse no druinato, mas ainda é cedo pra encorajar algo! _ Diz Paussin com um sorriso.
_Não sei não, lembro-me dela com um bastão nas mãos, girava-o com uma habilidade de um verdadeiro guerreiro e depois de derrubar o adversário, nos jogos estudantis, saia da arena com a graça idêntica à da mãe!
_Verdade... A única menina nos jogos de luta e eu, que tentei fazê-la mudar de idéia, pensei que poderia se machucar, que tolo, derrotou os quatro meninos que competiam com ela!
_Claro, herdou isso de ti! Hahahaha.
_Hahaha! Pois é, mas até hoje só não derrotei a ti com um bastão! Então, quem sabe se um dia tiveres filhos, algum entre para a tropa também!
_Se tal dia chegar, saberei que o pequeno estará em boas mãos!



Conversamos mais algumas banalidades e a uma certa hora decidimos aquietarmos, porém, antes de dormir, peguei-me pensando em nomes, qual a um enigma, um quebra-cabeças, como os que jogava com Paussin depois das aulas com os escribas... Lenwo Yondo-Calmcacil... Meu nome em nosso idioma... Pensava em meu nome e de como passei a me chamar Naldus filho de Calmcacil em conseqüência do Druinato. “Tereis nomes em língua comum, para que podeis ser conhecidos entre os humanos!” Ecoava a voz de Mestre Hortinin no salão principal na cerimônia de ordenação. Muitos de nós acabam usando os nomes em língua comum, quando em convívio com os humanos, outros não. Os Druidas transcrevem seus primeiros nomes para o celtilês, mas sempre me perguntava, o nome do pai, continua no nosso idioma? “Quando o pai tiver um nome trasncrito, trasncrevesse os dois, irmão Naldus!” Mestre Hortinin me disse enquanto entregava a transcrição do meu nome... É... E o barco desce o rio em direção a Vernes.

Senti como que um baque e acordei assustado, era Paussin me acordando, o sol estava quase saindo.
_ Lenwo, estamos próximo a Vernes e escutamos ruídos estranhos, acho que a guerra chegou até aqui!_ Falou apressadamente e em tom meio baixo, enquanto remava junto com os outros dois soldados.
_Senhor, tem uma fumaça depois da próxima curva!_ alertava Morn, o soldado que remava a direita.
_Aguardamos ordens, Senhor!_ Ouvi Pityo falar a Paussin.
_Continuemos, mas fiquemos alertas, talvez sejamos importunados em breve!
Peguei meu remo e segui ajudando. Contornamos a parte sinuosa do rio. Havia um grupo de homens, uns seis eu pude contar, estavam à margem direita, próximos a uma prainha. Usavam armaduras sofienses e rodeavam uma fogueira.

Um deles nos avistou e chamou os outros:
_Viajantes nativos!_ bradou o soldado que nos viu, no idioma Sofiense.
Todos se levantaram. Um soldado com a armadura mais adornada e com símbolos que reconheci sendo de alguma patente elevada, gritou:
_Aproximem-se, viajantes!



Morn e Pityo viraram sutilmente para Paussin que só respondeu um quase inaldível sim.
Remamos até a praia e descemos, percebemos as mãos dos soldados sobre o punho das espadas curtas que pendiam dos cintos.
_O que fazem por aqui? Acaso não sabem que há uma guerra nesse território?
_Sabemos, senhor! _ Disse Paussin calmamente. _ Apenas precisamos de provisões e Vernes é a cidade mais próxima da nossa, precisamos ir até lá, sabemos que a cidade têm grandes silos e abastece a vizinhança.
_Não me importa se passarão fome, voltem imediatamente! _ Bradou o humano em tom ameaçador.
_Sinto muito, senhor, mas não posso voltar a minha cidade sem cumprir o meu dever. _ Meu amigo respondeu ainda calmo.
_Estás surdo homem?_ O soldado desembainha a espada. _ Acredita que passará daqui até Vernes?
_Mantenha a calma, Senhor, não queremos machucá-los... _ Paussin disse isso e percebi o movimento sutil das mãos dele e dos outros colegas por dentro do manto pesado, certamente seguravam as espadas. Vendo isso, segurei com mais firmeza o meu cajado.
_Machucar-nos? Vais engolir isso, magrelo!



Espadas foram desembainhadas, o som do aço ecoou pela floresta, me vi com meus amigos rodeado por seis soldados. “São elfos” escutei um deles dizer e invoquei Escudo da fé sobre meu amigos. Um tom azulado com faíscas verdes ficou ao nosso redor. Os soldados sofienses hesitaram por um momento.



_Não queremos machuca-los! Apenas deixe-nos seguir viagem! _Adivertiu Paussin com sua Espada em punho.
_Ataquem! _ Bradou o Soldado!



Os sofienses partem para cima de nós, Paussin luta com o líder e mais um e Morn também se encarrega de lutar com dois, eu e Pityo ficamos com os demais.
Aparando os golpes do soldado com o cajado percebo que o homem fica mais nervoso ao perceber que não parecia ser fácil nos atingir e em meio a essa ação Brado “Despedace” lançando o encanto sobre a espada do guerreiro a minha frente.
Ele se assusta em ver apenas o cabo em sua mão, tempo suficiente para eu derruba-lo com meu cajado, nocautea-lo e em seguida, ir ajudar os demais.
Invoco Explosão Sonora sobre os dois que atacam Morn que caem ao chão com as mãos tapando os ouvidos depois do estrondo que os atira a 2m de onde estavam no meio da neve. Pityo desarma seu oponente enquanto cercamos os soldados que atacavam Paussin, um deles já desarmado.



_Será que agora poderíamos continuar nossa viagem? _Meu amigo pergunta ao líder que parece não acreditar que seus companheiros não podem mais lutar. O soldado larga a espada curta e diz:
_Podem ir, Creio que se quisessem matar-nos, já o teriam feito!
_Obrigado, sábio soldado, espero que não tenhamos machucado algum de vós!_Responde Paussin se dirigindo ao barco andando de costas, fitando o soldado sofiense enquanto embarcamos novamente.
Antes de seguirmos remando Paussim olha para o líder e diz:
_Namárië, Bom soldado! Adeus!
Descemos o rio, agora faltam apenas algumas jardas para chegarmos a Vernes...


(Continua)

Capítulo IV - Mensagens


Diante do meu olhar intrigado, Mestre Hortinin sorriu e seguiu dizendo:
_ Irmão Naldus, tu não me vistes, pois Viviane queria que não houvesse distração durante o encontro, mas creio que explicações sobre esses detalhes podem ser dadas mais tarde!


Olhando o rolo de pergaminho e depois mirando-me, rompeu o cantar dos grilos com sua voz grave:
_Irmão, precisamos acordar os outros. Cópias dessa sua carta serão necessárias e o envio delas deve ser o mais rápido possível! Com um aceno de cabeça sai do quarto do Mestre e me dirigi para os demais quartos com a mesma frase em meus lábios: “Reunião no salão Principal”! Olhares de contrariedade, por terem sido acordados antes de o sol pontear seus raios para um novo dia, assim como dúvidas e interesses foi o que se mostrou nos rostos que encontrava a cada porta aberta!


Um quarto de hora depois estávamos todos no salão principal. As pedras de Luz Contínua descobertas iluminavam o ambiente. Sentei-me à grande mesa com meus colegas, a frente de cada um havia tinta, cera vermelha e penas. Nosso Mestre começou a distribuir papiros e logo todos estávamos com um a nossa frente. A voz grave do velho elfo reverberou na sala.


_Irmão, infelizmente vosso sono teve de ser interrompido, temos uma mensagem urgente a ser passada para todas as cidades Elficas de Celtiland e tenho a esperança de que até o fim do dia a mensagem tenha atingido todos os nossos irmãos! Ditarei a mensagem redigida por nosso irmão Naldus, vós copiareis nesses papiros e anotareis no fim da carta “mensagem flamejante”, assim cada pessoa que receber saberá que a mensagem queimará após ser lida pelo destinatário. Essa medida é para garantir que a mensagem não seja lida por ninguém não autorizado e o original estará guardado aqui conosco neste pergaminho. Cada um de vós ao término da cópia enrolará seu papiro e o lacrará com o Selo de Viviane encontrado em vosso pendente. Leveis as cartas o pombal e libereis os pombos para seus respectivos destinatários. Esperaremos por respostas até o fim da tarde. Agora iniciaremos as cópias!
Dito isso começamos a escrever as palavras ditadas e logo tínhamos concluído o trabalho.
Pombas libertas nos reunimos ao pátio central e oramos ao altíssimo, rogando por um bom trabalho.


***


Estava sentado a um banco em nosso pátio, descansando a uma sombra após o almoço quando uma pomba veio ao meu encontro. Era a resposta à mensagem que eu enviara ao mestre Druida Lerat da cidade de Kornuan, ao oeste de nossa ilha. Abri o lacre de Viviane e li o que se encontrava no bilhete:
Irmão,
Mensagem recebida e repassada a todos.
Que o altíssimo nos acompanhe e que Viviane nos guarde!
“mensagem flamejante”

Assim que coloquei o papiro sobre o banco de pedra este queimou com uma chama esverdeada. Fui ao encontro de Mestre Hortinin que estava a alguns metros em outro banco:
_Kornuan já sabe da mensagem.
_Faltam apenas mais duas cidades ao Norte, creio que responderão até a tarde._ Disse-me o Mestre.
_Civitis e Dorvus ficam depois de Dunkël, uma cidade Drow, as pombas poderiam ser interceptadas ao passar por lá!
_Sim Jovem, o que nos daria mais trabalho por hoje. Imagino que os sacerdotes de Dunkël ficariam se perguntando o que uma pomba de Haendelle estaria levando em uma mensagem flamejante e montariam alguma espécie de guarda nos arredores. Portanto, se a mensagem de resposta não chegar até o fim da tarde, receio que devemos mandar um mensageiro escoltado e por via marítima. Isso nos faria perder uma semana de alerta para nossas cidades ao norte, mas não pensaremos nisso agora, pensemos apenas em receber a resposta em breve.

Acenei com a cabeça em sinal positivo, e me peguei pensando que provavelmente o mensageiro escoltado seria eu, visto que os outros mensageiros estavam em trânsito, indo a Vernes e a costa leste para obter informações sobre os rumores do avanço de tropas sofiences lideradas por Uter. Não gostei da sensação de ter de viajar para o norte em um tempo perturbado, contudo ainda tinha de esperar se receberíamos a resposta das ultimas mensagens antes de me preocupar com tal coisa.

O sol já mostrava seus últimos raios quando uma pomba chagou com resposta de Dorvus e infelizmente nenhuma resposta de Civitis.
Mestre Hortinin veio a mim e disse:
_Irmão Naldus, tu és o mensageiro mais qualificado para levar essa mensagem até Civitis e é preciso que partas o mais rápido possível.
_Sim senhor. _concordei embora minhas orelhas denunciassem meu pesar sobre a notícia.
_O Capitão Paussin irá contigo e contará com mais dois soldados. Não se sinta temeroso, sei que tudo que aprendeste até agora conosco poderá te ajudar em qualquer contratempo, irmão!
_Obrigado mestre! Irei buscar minha bolsa para seguir viagem. _respondi um pouco mais animado por saber que meu amigo Paussin iria comigo.
_Sim, vá e que o Altíssimo te acompanhe!

Me despedi do Mestre e fui até meu quarto. Arrumei duas túnicas de passeio, algumas frutas, um cantil, a esteira e um cobertor na bolsa. Vesti uma outra túnica de passeio, era primordial que eu passasse despercebido, apenas como um elfo viajante e errante, então nada de insígnias e o meu pendente ficou sob a túnica escura e um pesado manto de viagem me cobria por inteiro. Na faixa que me cingia os rins guardei a bolsa de moedas e uma adaga. Joguei a bolsa às costas e por fim peguei meu cajado, mentalizei sua nova forma e o que era um cajado trabalhado se transformou em um mero pedaço de madeira comum a todo viajante ou pastor.

Fui ao encontro de Paussin e os outros. Meu amigo também estava parecendo um simples viajante, não vestia a túnica azul-celeste com seus detalhes ornamentais e símbolos hierárquicos que sempre o vira usar. Na verdade ele parecia-se agora mais com o garoto que sempre foi o meu grande amigo e com quem passava a maior parte do tempo me divertindo com jogos, enigmas ou olhando as meninas nas aulas com os escribas ou mesmo na ágora da cidade. Cumprimentei meu amigo com um abraço e acenei para os demais.


_Viagens à noite, amigo, são as mais capciosas! _Disse-me o elfo de cabelos e olhos castanhos e um sorriso que me fez perceber que não era pra me preocupar com a pequena jornada.
_Sei disso Paussin, ainda bem que posso contar convosco e Viviane nessa viagem! _ Respondi retribuindo o sorriso e embarcando com eles no pequeno barco atracado no rio Wass, nosso caminho até o porto marítimo mais próximo em Vernes.
(continua)

Capítulo III - Epifanía


Numa noite ela apareceu em meus sonhos... Bela, saia das águas do grande lago e parecia pairar sobre as mesmas... Asas de borboleta surgiram a suas costas e uma túnica alva com detalhes brilhantes a vestia... Em sua cabeça uma tiara de pedras coroava seus cabelos com tons verdes. Era a primeira vez que a via. Parecia-me estranhamente familiar. Ela se aproximou de mim, esse jovem elfo que sentara abaixo da sombra de uma árvore de copa larga. Sua voz soava como uma melodia élfica tocada pelos mestres Bardos... Então escutei com atenção:

_ Naldus, meu jovem e amado servo, temente ao Altíssimo e dedicado Druida de Haendelle, te conheço, assim como a todos que O Altíssimo me presenteou com a honra de cuidar por todos esses séculos que se passaram e para garantir que o Seu nome seja conhecido por todos os nascidos elfos nas terras de Celtiland! Hoje tu recebes uma mensagem e deve ser pasada a todos os elfos Druidas de nossa Ilha.

Tempos de paz virão, todavia a vida neste mundo é uma constante de ciclos e nossa atual calmaria foi abalada. Mab, Protetora dos humanos e dos Drows de Celtiland, foi corrompida pelo orgulho e seduziu seus seguidores a adorarem-na! Porém seus dias de pretensa Deusa estão contados. A profecia de 325 teve seu início e o ungido terá seu nome nos quatro cantos de nosso mundo.

Com o temor de perder seus domínios, Mab criou o mais poderoso Mago-Druida que habita o solo mortal.
Seu nome é Merlin. Ele seria uma arma contra o avanço de Santa Sofia sobre Celtiland, mas Mab se esqueceu do essencial: por mais que se criem corpos, somente o altíssimo cria as almas, assim sua arrogância será sua ruína. Merlin abandonou Mab e decidiu se unir a Uter... O General Sofiense marchará sobre nossa ilha e tentará pegar à força domínios políticos celtas e com isso a Cruz do ungido irá com ele... Fins não justificam meios... Minhas lágrimas não serão suficientes para acalmar os corações dos que sofrerão com essa tormenta, sejam elfos ou humanos... Mab é responsável por isso e sua recompensa virá, todavia as terras de Celtiland irão sofrer anos por conta dessa desobediência, assim como o Portador-da-Luz sofreu ao achar que era o próprio altíssimo!

Filho avise seus irmãos de que dias manchados virão e peça que não percam a fé! Um grande passo entre Elfos e Sofienses será dado em breve, esteja preparado querido filho, tu estarás lá para ver e participar!

Quase atônito com a visão, ainda tive tempo de perguntar:
_Senhora do Lago, doce Viviane, como posso agradecer a honra de ter te visto, sendo eu apenas um pequeno Druida entre tantos outros?
_És pequeno e no Reino do Altíssimo, os pequenos são Grandes, assim como tua alma é Grande em Amor, que esse Amor se espalhe por Celtiland e contagie a todos que teu caminho cruzar! Não és perfeito e sabes disso, filho, isso te fez digno de receber esse fardo pesado! O Altíssimo te dará sinais ao longo dessa caminhada, persevere, amado filho!

Lagrimas de emoção rolaram por minha face. Viviane abriu suas asas e num movimento rápido desapareceu por entre as árvores ao redor do Grande Lago.
Acordei meio assustado, mesmo assim peguei pena e tinta, anotei tudo que se passou na visão e corri pelo corredor frio daquela madrugada de inverno, meu destino era o quarto do Mestre Druida Hortinin. Sem entender o porquê de estarem batendo à sua porta antes do galo cantar, Mestre Hortinin com sua paciência quase divina abriu a porta e me fez entrar.

Afoito com tudo que havia passado naquela visão, mostrei o pergaminho com o texto, e falava eufórico “Viviane, Mestre, eu a vi hoje! Ela me deu uma mensagem! Está aqui!”
Mestre Hortinin sorriu, pegou o pergaminho e me disse:
_Jovem Naldus, eu sei o que está escrito aqui e que tu estiveste com Viviane, eu também estava lá!
(continua)

Capítulo II - Tempos de calmaria

Tempos menos tribulados se seguiram e um tema corria entre todos os druidas:
Seguiria-se o tempo de transição? como se daria isso? As respostas não viriam com rapidez, os altos sacerdotes não sabiam explicar como se daria essa "fusão". Alguns clérigos sofienses apareceram em Haendelle, no ano de 432, eles conheciam nossos textos e traziam as mesmas dúvidas... Poderia existir um só tipo de culto do nascer ao por-do-Sol?


Os clérigos passaram 5 anos conosco, aprendendo sobre nossa cultura, ritos e ensinava-nos os deles. Eram emissários do Clerigo maior deles, que chamavam de Papst ou o Pontífece (criador de Pontes) foi uma época interessante e este jovem elfo era um dos responsáveis pela acolhida as humanos sofienses.

Quanto a vida em Celtiland, de pouco havia mudado nos domínios humanos. A divisão política permanecia em Burgos independentes com seus líderes. Soberanos e sacerdotes Humanos não aceitaram a visita dos clérigos de Santa Sofia e pelo que nos foi informado, além de Haendelle, apenas outras duas cidades élficas tiveram visitas sofienses.

Terminado o colóquio entre elfos druidas e clérigos humanos, o diálogo entre nossos sacerdotes e a cúpula religiosa da chamada Assembéia manteve-se com laços estreitos e o tema principal foi sempre a profecia de 325 e seus desdobramentos para o futuro das nações por ela atingida.

Fato curioso, o Império de Santa Sofia controlava a maior parte do mundo conhecido e além do controle político, existia uma espécie de supremacia Religiosa. Todo o império tinha como religião a fé no Ungido e sua doltrina era assegurada pela Assembléia, sediada na capital.

A ilha de Celtiland permaneceria em paz até 495AD, quando um general Sofiense assumiu o controle da cidade de Roxz, a única fortalesa do poderoso império em solo celta. Uter, ao receber o título de Mestre de Roxz decide iniciar a conquista de Celtland e novamente Viviane iria chorar a perda de seus protegidos...
(continua)

Capítulo I - Haendelle

Haendelle. Minha cidade natal, a maior cidade élfica de Celtland...
Praticamente um centro Druida com um grande templo dedicado a Viviane, que muitos conhecem como a Dama-do-Lago e hoje é venerada como o anjo de Celtiland.


Mundo interessante esse em que fui criado... No ano do Senhor de 325 havia uma expectativa quanto a algumas profecias registradas em pergaminhos guardados pelos Druidas em verdadeiras fortalezas. Uma pequena parte dizia:

"contando três centos acrecido de mais um quarto
ideologia definitiva, marcada com sangue, pena e tinta
ocupará seu lugar, no coração dos povos
de nossas e outras terras sem que escape um!"

Estudiosos debruçaram-se durante séculos sobre essas palavras juntando documentos sagrados de nossos povos com os de outros que encontravamos em nossas viagens tudo ficou muito claro...
Diz o livro sagrado dos Elfos que o Altíssimo, criador de tudo e todos, entregou os povos por ele criado sob a proteção de seres angelicais, seus guardiões. A cada um deles foi dado o poder de ensinar sobre as leis divinas e sobretudo aguardar o dia da vinda do Ungido que reuniria todos os povos à luz do Reino Celeste. Nossos livros retratam dois guardiões, Mab protetora dos humanos e dos Drows e Viviane, protetores dos Elfos de Celtiland. Contudo nada nos fala sobre como seria a vinda do Ungido.

Através dos séculos os druidas se encarregaram de percorrer o mundo de encontro com outras culturas e povos, não ficamos isolados em nossa ilha, encontramos com os Semitas e os Sofienses, falo em especial sobre esses povos porque seus livros sagrados nos mostraram, durante as pesquisas, o que buscávamos... Com os semitas descobrimos onde surgiria o Ungido, que eles chamavam Messias em sua lingua. Descobrimos outros Guardiões de povos e escrevemos sobre eles em nossos arquivos.

Em fim, o Ungido nasceu, um de nós foi até lá e o presenteou junto com mais dois de outros povos no dia de seu nascimento. Ele cresceu e ensinou , mostrou o Reino de Javé, assim como ele chamava o Altíssimo, e por um plano tramado contra ele, seus braços abertos marcaram a terra definitivamente o início de uma nova era. Era esperada por nós em nosso segredo egoista. Ele retornou dos mortos e espalhou seu seguidores pelo mundo!
Era o Filho do Altíssimo. a profeccia estáva decifrada. mil anos de incógnitas foram reveladas:

"contando três centos acrecido de mais um quarto (325)
ideologia definitiva, marcada com sangue, pena e tinta (evangelho marcado com o sangue do ungido, e as palavras registradas de seu seguidores)
ocupará seu lugar, no coração dos povos (será enviada a todos os filhos do altíssimo)
de nossas e outras terras sem que escape um! (e ninguém ficará sem o conhecer)"

325, com a criação do calendário Sofiense que marcava como ano 1 o nascimento do Ungido ficou claro que 325 seria o ano, segundo esse calendário, que se iniciaria a trasição para a ideologia definitiva.
Infelizmente essa chamada transição não aconteceu como muitos druidas previam. O que aconteceu no ano de 325, me lembro como hoje, eu era um jovem de apenas 18 anos, estudava as artes druidas no templo e me dedicava ao máximo que minha idade permitia, a nossa leitura sagrada e aos nossos documentos.

Celtiland era uma ilha formada por vários povos fragmentados, de fato as duas maiores cidades eram Vernes e Haendelle, cidades humana e Elfica respectivamente. não existia um governo que os ligasse, era um fragmentado de burgos em toda a ilha.

Neste ano o então Império Sofiense voltou seus ólhos para a ilha que pairava solitária sobre o grande oceano que o máximo que conheciam eram alguns viajantes que apareceiam de tempos em tempos e se escondiam em bibliotecas.

Presenciei nada menos que a tentativa de tomarem nossa ilha, e anos de guerras foram travados. Junto com as tropas uma religião caminhava. Eram os seguidores de Christus, o Ungido na lingua Sofiense, acredito até hoje que foi só isso que veio de bom do continente naquela época, pois, infelizmente, os soldados não realizavam as obras que pregava sua religião.

A guerra duraria até o ano de 430, mais de 100 anos depois e o máximo que o Imperio de Santa sofia consegui foi fundar uma cidade no extremo da ilha, próximo ao estreito de Tório, local mais próximo do continente.
A cidade ficou sob comando sofiense e não foi tomada graças a um tratado de paz entre Celtas e Sofienses.(continua)