sábado, 2 de agosto de 2008

Capítulo IV - Mensagens


Diante do meu olhar intrigado, Mestre Hortinin sorriu e seguiu dizendo:
_ Irmão Naldus, tu não me vistes, pois Viviane queria que não houvesse distração durante o encontro, mas creio que explicações sobre esses detalhes podem ser dadas mais tarde!


Olhando o rolo de pergaminho e depois mirando-me, rompeu o cantar dos grilos com sua voz grave:
_Irmão, precisamos acordar os outros. Cópias dessa sua carta serão necessárias e o envio delas deve ser o mais rápido possível! Com um aceno de cabeça sai do quarto do Mestre e me dirigi para os demais quartos com a mesma frase em meus lábios: “Reunião no salão Principal”! Olhares de contrariedade, por terem sido acordados antes de o sol pontear seus raios para um novo dia, assim como dúvidas e interesses foi o que se mostrou nos rostos que encontrava a cada porta aberta!


Um quarto de hora depois estávamos todos no salão principal. As pedras de Luz Contínua descobertas iluminavam o ambiente. Sentei-me à grande mesa com meus colegas, a frente de cada um havia tinta, cera vermelha e penas. Nosso Mestre começou a distribuir papiros e logo todos estávamos com um a nossa frente. A voz grave do velho elfo reverberou na sala.


_Irmão, infelizmente vosso sono teve de ser interrompido, temos uma mensagem urgente a ser passada para todas as cidades Elficas de Celtiland e tenho a esperança de que até o fim do dia a mensagem tenha atingido todos os nossos irmãos! Ditarei a mensagem redigida por nosso irmão Naldus, vós copiareis nesses papiros e anotareis no fim da carta “mensagem flamejante”, assim cada pessoa que receber saberá que a mensagem queimará após ser lida pelo destinatário. Essa medida é para garantir que a mensagem não seja lida por ninguém não autorizado e o original estará guardado aqui conosco neste pergaminho. Cada um de vós ao término da cópia enrolará seu papiro e o lacrará com o Selo de Viviane encontrado em vosso pendente. Leveis as cartas o pombal e libereis os pombos para seus respectivos destinatários. Esperaremos por respostas até o fim da tarde. Agora iniciaremos as cópias!
Dito isso começamos a escrever as palavras ditadas e logo tínhamos concluído o trabalho.
Pombas libertas nos reunimos ao pátio central e oramos ao altíssimo, rogando por um bom trabalho.


***


Estava sentado a um banco em nosso pátio, descansando a uma sombra após o almoço quando uma pomba veio ao meu encontro. Era a resposta à mensagem que eu enviara ao mestre Druida Lerat da cidade de Kornuan, ao oeste de nossa ilha. Abri o lacre de Viviane e li o que se encontrava no bilhete:
Irmão,
Mensagem recebida e repassada a todos.
Que o altíssimo nos acompanhe e que Viviane nos guarde!
“mensagem flamejante”

Assim que coloquei o papiro sobre o banco de pedra este queimou com uma chama esverdeada. Fui ao encontro de Mestre Hortinin que estava a alguns metros em outro banco:
_Kornuan já sabe da mensagem.
_Faltam apenas mais duas cidades ao Norte, creio que responderão até a tarde._ Disse-me o Mestre.
_Civitis e Dorvus ficam depois de Dunkël, uma cidade Drow, as pombas poderiam ser interceptadas ao passar por lá!
_Sim Jovem, o que nos daria mais trabalho por hoje. Imagino que os sacerdotes de Dunkël ficariam se perguntando o que uma pomba de Haendelle estaria levando em uma mensagem flamejante e montariam alguma espécie de guarda nos arredores. Portanto, se a mensagem de resposta não chegar até o fim da tarde, receio que devemos mandar um mensageiro escoltado e por via marítima. Isso nos faria perder uma semana de alerta para nossas cidades ao norte, mas não pensaremos nisso agora, pensemos apenas em receber a resposta em breve.

Acenei com a cabeça em sinal positivo, e me peguei pensando que provavelmente o mensageiro escoltado seria eu, visto que os outros mensageiros estavam em trânsito, indo a Vernes e a costa leste para obter informações sobre os rumores do avanço de tropas sofiences lideradas por Uter. Não gostei da sensação de ter de viajar para o norte em um tempo perturbado, contudo ainda tinha de esperar se receberíamos a resposta das ultimas mensagens antes de me preocupar com tal coisa.

O sol já mostrava seus últimos raios quando uma pomba chagou com resposta de Dorvus e infelizmente nenhuma resposta de Civitis.
Mestre Hortinin veio a mim e disse:
_Irmão Naldus, tu és o mensageiro mais qualificado para levar essa mensagem até Civitis e é preciso que partas o mais rápido possível.
_Sim senhor. _concordei embora minhas orelhas denunciassem meu pesar sobre a notícia.
_O Capitão Paussin irá contigo e contará com mais dois soldados. Não se sinta temeroso, sei que tudo que aprendeste até agora conosco poderá te ajudar em qualquer contratempo, irmão!
_Obrigado mestre! Irei buscar minha bolsa para seguir viagem. _respondi um pouco mais animado por saber que meu amigo Paussin iria comigo.
_Sim, vá e que o Altíssimo te acompanhe!

Me despedi do Mestre e fui até meu quarto. Arrumei duas túnicas de passeio, algumas frutas, um cantil, a esteira e um cobertor na bolsa. Vesti uma outra túnica de passeio, era primordial que eu passasse despercebido, apenas como um elfo viajante e errante, então nada de insígnias e o meu pendente ficou sob a túnica escura e um pesado manto de viagem me cobria por inteiro. Na faixa que me cingia os rins guardei a bolsa de moedas e uma adaga. Joguei a bolsa às costas e por fim peguei meu cajado, mentalizei sua nova forma e o que era um cajado trabalhado se transformou em um mero pedaço de madeira comum a todo viajante ou pastor.

Fui ao encontro de Paussin e os outros. Meu amigo também estava parecendo um simples viajante, não vestia a túnica azul-celeste com seus detalhes ornamentais e símbolos hierárquicos que sempre o vira usar. Na verdade ele parecia-se agora mais com o garoto que sempre foi o meu grande amigo e com quem passava a maior parte do tempo me divertindo com jogos, enigmas ou olhando as meninas nas aulas com os escribas ou mesmo na ágora da cidade. Cumprimentei meu amigo com um abraço e acenei para os demais.


_Viagens à noite, amigo, são as mais capciosas! _Disse-me o elfo de cabelos e olhos castanhos e um sorriso que me fez perceber que não era pra me preocupar com a pequena jornada.
_Sei disso Paussin, ainda bem que posso contar convosco e Viviane nessa viagem! _ Respondi retribuindo o sorriso e embarcando com eles no pequeno barco atracado no rio Wass, nosso caminho até o porto marítimo mais próximo em Vernes.
(continua)

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