terça-feira, 11 de novembro de 2008

Capítulo XII - Descoberta

Estava sentado sobre uma almofada apreciando os acordes que minha mãe produzia em sua flauta. Meu pai, sentado junto a ela cantava os versos tão antigos quanto nosso povo, cantigas doces, algumas vezes melancólicas, contando a chegada dos primeiros elfos a Celtiland, os pioneiros que deixaram para trás, os paises gelados, os parentes e acreditaram que nessa ilha faria uma nação forte.
Esse momento ufanista exacerbado, ao som da flauta delicada de minha mãe, foi interrompido por uma batida à porta. Para não interromper a musica de meus pais, já que eu não era o único ouvinte, pois tinha minha irmã e minha sobrinha como companhia nessa pequena festa, levante-me e fui atender a porta.

Ela estava parada, aparentemente nervosa, não me recordo de quando vi Lavië me olhar daquela maneira antes. Seus olhos miraram os meus, pareciam ler minha alma e por um momento eu fiquei inquieto com o seu gesto, mas antes que eu pudesse falar algo, ou ter percebido que o que parecia ter passado vários minutos, fora apenas poucos segundos, sua voz rasgou o silencio entre nós:

_Aiya, Lenwo! Não vim para uma visita e sim para conversar contigo e ficaria muito grata se fosse só entre nós!

_Ai... Aiya, Lavië! Tudo bem, só vou avisar aos meus pais que precisamos conversar um pouco e podemos andar um pouco pelo campo, certo?

_Certo...

Virei-me e acenei para meus pais, eles acenaram para nós e entre um verso e outro, meu pai disse para voltarmos para comermos antes de regressarmos para a Ordem.

Andamos um pouco e logo estávamos perto do jardim de tulipas de minha mãe, com a primavera por chegar, algumas flores já demonstravam sinais de que logo estariam colorindo nossas vidas novamente.

Seguindo um pouco mais à frente, um grande carvalho se mantinha majestoso e fazendo uma bela sombra que Lavië e eu aproveitamos e encostando as costas no tronco da árvore, nos sentamos.

Encostei a cabeça no tronco da árvore e dali eu pude ver minha casa, a dos vizinhos, a cidade inteira, Haendelle estava ali a nossa frente.

Lavië encostou a cabeça em meu ombro e ficou observando a cidade também.

_Lenwo, como pode nossas vidas mudarem tanto em tão pouco tempo? Como pode um povo que vive a lentidão do passar dos dias a contar semanas, anos, séculos, ter tudo que conhece mudar de uma hora para outra?

_Sei o que queres dizer, Lavië, acredito que esteja além de nossa compreensão!

_Mês passado estávamos sentados, devorando livros e em pouco tempo estaremos indo guerrear... _a voz de Lavië parecia embargada ao dizer isso.

Passe minha mão sobre os cabelos vermelhos de minha amiga, ela levantou a cabeça e procurou meus olhos. Ela me mirava novamente como quando eu abri a porta. Havia um misto de sentimentos em seu olhar: raiva, angústia, medo... e paixão!

Naquele instante eu compreendi as palavras de Mestre Hortinin, “cuide de Lavië”, tão absorto que estive, preocupado com tudo e com todos e não percebi que essa amiga que agora estava com os olhos marejados, sentada à minha frente, merecia um pouco mais da minha atenção. Não, não apenas um pouco mais. Aqueles olhos de água-doce que me olhavam como quem busca um pouco de esperança em meio ao caos, deixaram de ser da menina de cabelos vermelhos que sempre esteve por perto, para se transformarem nos olhos verdes da mulher, Lavië Yende-Ancar, Druidesa de Haendelle e que já a algum tempo habitava uma parte de meu coração, sem ter pedido licença, apenas chegando e se apossando do território. Me senti como um menino, parecia fazer calor, suor brotou em minhas mãos, era confuso, como poderia sentir tantas coisas ao mesmo tempo?

Eu tinha o dom de manipular a natureza com minha vontade, contudo, qualquer magia, por mais avançada que fosse, naquele momento era completamente inútil, era só ela e eu.

_Lenwo, meu doce Lenwo..._ disse Lavië, como quem arranja força onde não existe_ Hoje, ao acordar, eu me dei conta de que o ritmo de nossas vidas está mais próximo do ritmo humano, que ela pode ser tão efêmera quanto à deles e que podemos partir para outro plano tão rápido e isso me fez tremer a alma. Estou mais que confusa. Nosso povo está acostumado a cultivar relacionamentos ao longo de incontáveis anos, a única exceção que eu conheço foi o casamento de Alasse e Paussin. Não me via preocupada em formar uma família, ter filhos, até ontem, minha preocupação era apenas servir ao Altíssimo e em apenas um dia, me cai sobre a cabeça que isso pode não acontecer, que eu posso morrer, que tu podes...

_Lavië! Não penses nisto! Lembra-te de nossa tríade: Curar a nós mesmos, curar a comunidade e curar a terra, pois não sendo assim não podemos nos chamar de druidas!

_Sim, eu sei...

_Então, se entregar a esses pensamentos é o mesmo que ignorar nossa primeira prioridade e se não estivermos curados de todos os males, realmente pereceremos!

Ela me olhava atentamente e nesse momento vi que a esperança renovava-se em sua alma.

_Hoje aqui, debaixo dessa árvore sagrada, eu, Lenwo Yondo-Calmicácil, te digo, que se depender de mim, nada de ruim irá acontecer a ti, minha querida Lavië!

_Ah, Lenwo...

Nossos olhares mantiveram-se fixados, nossas mãos unidas, o perfume adocicado que emanava dela parecia me envolver, a distância entre nós parecia cada vez menor e meu coração batia energicamente. O rosto de Lavië estava bem a minha frente, nossos narizes quase se encostando, sua boca delicada ficou entreaberta no exato momento em que ela fechou os olhos. Fechei os meus e nossos lábios se encontraram e o tempo parou naquela tarde, a tarde em que eu descobri que Amava profundamente Lavië.

(continua)

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