_Não importa quantos séculos passe, este sempre será teu lugar preferido...
Mab virou seu rosto na direção da voz e respondeu:
_Ynys Llanddëlle é quase que como um lar para mim. Adoro vir aqui e ver a paisagem da Ilha de Gildor, da Peninsula Llyëhn e das terras de Eryriëlle. Não sei, mas as montanhas do Eryriëlle Massif sempre me deram um sentimento de segurança...
_Principalmente agora, precisas mais de segurança... _interrompeu o homem alto que fazia companhia a Mab.
_ Phosphorus, creio que não precisas tentar me convencer de que estou em perigo, já me basta Viviane fazendo isso!
_Natural, já que somos irmãos...
_Mesmo assim, sei muito bem o que estou fazendo! _respondeu Mab, já demonstrando irritação. _ Além disso, não acredito que tu estejas em posição de me dar conselhos!
_Deveras!
O arcanjo parou um pouco, respirou fundo e se aproximou de Mab entrelaçando-a em um abraço por trás e disse:
_Mab, minha querida, sabes o quanto sofri e o quanto sofro ainda pela rebelião!
_Sim, sei disso... _disse a mulher virando o rosto na direção oposta ao de Phosphorus.
_Mab, não estou aqui para te convencer de nada, apenas para mostrar-te como podes se machucar ao seguir este caminho! Foste bem cautelosa quando não me seguiste com os revoltosos. Pense bem sobre isto!
Phosphorus encostou seus lábios no pescoço de Mab, a mulher sentiu um arrepio percorrer seu corpo todo. Os Braços dele apertaram mais o abraço, ela suspirou e de um sobressalto afastou o companheiro.
_Saia daqui! Volte para o abismo que tu e teus soldados receberam de espólio da derrota que Miguel te impôs! Não me importune com teus carinhos agora! Deverias ter pensado sobre isso antes de te revoltares contra o Altíssimo! Deverias ter pensado que me deixarias sozinha neste mundo! Talvez assim eu não tivesse ambicionado ter um domínio só meu! Talvez, se tivesse tido o seu coração como companheiro...
As lagrimas rolaram na face alva de Mab. O arcanjo nada falou, ficou apenas a observar a mulher em sua profunda amargura.
Mab ajoelhou-se no chão, seu corpo tombou pra frente junto com seu pranto que pesava os ombros. O vento não parava de assobiar no mesmo ritmo das ondas que encontravam as rochas. Depois de alguns instantes, Phosphorus rompeu o silêncio entre eles:
_Não pretendia trazer-te sofrimento, minha amada, apenas alertá-la, de que se tuas intenções não se consolidarem como imaginas, talvez um fosso também tu receberás como espólio por tua derrota!
_Vá-te daqui! _exclamou a mulher encolhida ao chão_ Deixe-me em paz!
O arcanjo fitou a mulher em sua agonia, fechou os olhos e balançou a cabeça. Suas asas então surgiram e em um salto ele adentrou em meio a uma luz avermelhada que sumiu como veio.
Parecia que apenas o vento e as ondas eram testemunhas dessa conversa, contudo os olhos verdes como as folhas das arvores na primavera, escondidos em algum lugar de Eryriëlle, observavam cada movimento na costa de Ynys Llanddëlle. E esses mesmos olhos transmitiram essa imagem para olhos verdes como a água doce. Olhos que se abriram em um susto no meio da noite.
(continua)