segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Capítulo XVIII - Nix

Pés desnudos calmamente passeavam sobre o chão coberto de grama. Apenas a luz prateada da lua incidia sobre a floresta e a figura feminina que ali estava. Ela andou até o grande lago e sentou-se naquela pedra. O reflexo da lua era contemplado por ela quando escutou um cumprimento:

_Boa noite, irmã!

A jovem de cabelos verdes e face serena voltou seus olhos contemplativos para a origem da voz. Era uma mulher envolta em um grande manto negro e estrelado. Um véu negro e também estrelado cobria parte de seus cabelos negros e longos. Em sua testa pude ver pender uma jóia em formato de lua minguante e seus olhos, também negos, fitavam confiante a mulher de aparência élfica sentada sobre a pedra à beira do Lago.

Viviane então respondeu à sua visitante:

_Boa noite, Nix! Sinta-se em casa.

Nix sentou-se junto à Viviane na mesma pedra e depois de um longo silêncio contemplando a lua refletida sobre as águas calmas do Lago, ela quebrou o silêncio.

_Mab não se convence de que a trilha que escolheu para si só causará dor a quem ela deveria proteger e a si mesma...

_Nada a faz rever suas atitudes. Nosso irmão esteve com ela e nem mesmo ele a fez voltar atrás. _ Respondeu ainda olhando para as águas.

_Irmã, Compreendes o motivo de minha estadia em Celtland?

_Decerto imagino...

_Os seres de Mittlar costumam dizer que tudo de mais doloroso passa pelas mãos de Nix... Mab desencadeou uma série de eventos que terei de observar. A Noite Absoluta acaba de ter inicio, Irmã, e sua duração ainda não deslumbro.

Uma lágrima correu do olho esquerdo de Viviane.

_Nix, mesmo que não deslumbres a extinção dessa noite, sei que não tardará para que Hemera venha me visitar em seu lugar!

_Que assim seja, irmã! Espero também que não demore tal encontro!

Elas permaneceram sentadas sobre a pedra, ainda observando o reflexo lunar nas águas do lago...

Abri meu olhos e estava deitado em minha tenda. Amanhecia e logo chegaríamos a Hertfordville. Em minha mente ecoava as palavras de Nix: Noite Absoluta.

(Continua)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Capítulo XVII - Acampamento


O som das chamas trepidando ao clarão do luar, mas mal era percebido diante do som das pessoas conversando ao redor da fogueira. Era o último pernoite antes do nosso destino final, Hertfordville, e Mestre Linwë achou por bem distrair-nos para que a ansiedade não tomasse conta de nossos corações.

Lavië se aproximou de Merlin e eu com um pano segurado pelas pontas, parecia conter algo.

_Colhi Johannesbeeren e queria dividir convoco!

_Que fruta é essa? _perguntou Merlin

_Cassis é como ela se chama em língua comum. _expliquei.

_Ah, claro, eu adoro cassis!

Seguimos Lavië até sua barraca. Lá sentamo-nos e enquanto comíamos das frutinhas pretas conversamos sobre amenidades. Em um dado momento, percebi que a moça tinha uma mancha no rosto.

_Lavië, acho que sujaste o rosto enquanto colhia as frutas...

_Provável, estava escuro e só tinha uma pequena pedra de luz contínua para me ajudar! _respondeu-me enquanto pegava um espelho de prata polida em sua sacola de viagem.

Enquanto ela limpava o rosto com um pano úmido, ouvi uma espécie de assovio.

_Ouvirdes isto? _perguntou Merlin.

_Parece o vento._respondeu a moça ainda passando o pano no rosto quase limpo.

_Sim, parece, mas não vejo as folhas das copas se moverem..._ respondi e olhei ao redor _ mas aqueles arbustos pareciam mexer...

Mal terminei a frase e senti uma onda de ar invadir a barraca e de certa forma me deslocou para o lado. Merlin também foi deslocado com a força invisível e Lavië foi jogada de costas ao solo.

_É um Silfo artificial! _gritou Merlin

_Dissipar magia! _gritei na intenção de desmaterializar a criatura, porém nada adiantou.

O ser de aparência Drow com asas insetóides e quase etérea voltou-se para mim voando rapidamente e me surpreendendo. Suas mãos agarraram meu pescoço e eu tentava me desvencilhar dele, mas só encontrava ar, minhas mãos atravessavam a criatura como se ela não existisse.

_Mísseis! _ouvi Merlin gritar e a luz de esferas voadoras saíram de seus dedos e atingiram o Silfo.

Ele me largou com o impacto do ataque, mas rapidamente já voltava em minha direção. Senti uma corrente de ar ao meu redor seguida da formação de uma barreira de pedras vindas de fora e a criatura bateu abruptamente a alguns centímetros de mim, então vi que Lavië empunhava sua baqueta e formava um escudo ao meu redor.

_Temos de tirá-lo da barraca! _gritou a moça.

Merlin fez um gesto e a cobertura voou deixando-nos ao ar livre. Isso chamou a atenção de nossos companheiros que até então não haviam percebido o que se passava conosco.

Vi vários druidas correndo em nossa direção e o Silfo também percebendo, evocou uma rajada de vento em espiral tão rápida que os jogou ao chão. Lavië e Merli também caíram e eu perdi meu escudo. O Elemental mirou-me novamente e eu mentalizei meu Cajado. O Oponente voou na minha direção demonstrando ataque frontal e eu girei para a esquerda desferindo um golpe com o cajado em diagonal, assim que ele se materializou em minhas mãos. A criatura sentiu a pancada, armas mágicas e ataques mágicos poderiam atingi-lo. Ele fitou-me com raiva e investiu em novo ataque eu lancei pedras afiadas sobre ele. Uma broca de água acertou-o na cabeça ao mesmo tempo em que as pedras voavam em seu peito e um som agudo de assobio saiu de sua boca, parecia um grito de dor. Merlin atacava com um chicote de terra, Lavië cercou a criatura com uma barreira de pedras imobilizando o ser.

Mestre Linwë já estava ao meu lado com sua baqueta em punho apontando para o silfo e bradou:

_Ventos da desordem extinguem-se no vácuo!

A barreira de pedras de Lavië pareceu se transformar em uma bolha cristalina e o Elemental parecia dissolver e regenerar logo em seguida sua forma, mas a expressão de dor era visível em seus olhos. Alguns momentos depois a criatura tombou. Mestre Linwë dissipou o vácuo e Merlin envolveu a criatura com o chicote de terra e me gritou:

Lenwo, o espelho!

Ao meu lado estava o espelho de prata. Apanhei no chão e corri até Merlin para jogá-lo no chão. O Mago com um movimento do chicote lançou a criatura ao ar para logo puxá-la na direção do espelho. O silvo caiu sobre o objeto e foi absorvido por ele.

Percebi que algum momento se passava enquanto todos olhavam para o espelho ainda no chão de terra. Merlin abaixou-se e apanhou o objeto.

_Um Elemental artificial e com características Drow... _disse o mago.

_Por que ele só atacou a nós? _perguntou Lavië.

_Quem o invocou conhecia a vós! _respondeu mestre Linwë. _Vós sabeis quem poderia ser?

_O diplomata que encontramos na sala de Uter. _respondeu Paussin que fitava o espelho também. _Ele foi o Drow que encontramos recentemente e estávamos todos juntos, acredito que se passasse por vós, Pityo Morn e eu seríamos os próximos alvos.

_Certamente, _disse Merlin com o espelho na mão _ Temos de enterrar este espelho, assim não corremos o risco de soltar o Elemental por acidente. Com uma boa camada de terra, mesmo que ele consiga sair, não sobreviverá soterrado. Desculpe Lavië, te compro outro espelho em breve.

A moça sorriu não se importando muito com a perda do espelho.

Merlin ainda conversou um pouco com Mestre Linwë e Contra-menstre Junwo. Ele acredita que o Elemental também serviria de espião para as tropas da Rainha Alëh.

Fomos arrumar nossas coisas e descansamos com turnos de guardas dobrados. A guerra acabara de começar para nós.

(continua)

sexta-feira, 19 de março de 2010

Capítulo XVI - Campanha Iniciada

O círculo de pedras projetava uma grande sombra sobre nós. Mestre Linwë segurou a tocha com as duas mãos na direção do nascer do sol, dando graças e com uma oração invocou graças. Virou-se para o lado e posicionou a tocha sobre o grande jarro para logo largar o corpo incandescente nas águas tranqüilas. A tocha mergulhou e o som das chamas se extinguindo encheu o círculo.

***


Depois do desjejum peguei minha bolsa de campanha e cajado em meu quarto. Fora da Ordem, sou brindado com um sorriso iluminado no rosto de Lavië.


_Tenho uma coisa para ti!


_O que?


_Isto!


Em sua mão havia uma Elvischklee.

_Passei no Horto e Öada me presenteou com uma e disse que é bom ganhar, sendo assim, peguei esta para ti! _terminou a frase colando seus lábios nos meus.


_Muito obrigado! _respondi depois do beijo _ Eu admiro muito a beleza desta plantinha!


_Sei disso, Öada me contou das vezes que te via observar as mudas com suas folhas fechadas à noite.


_É mesmo, elas ficam fechadas como se estivessem orando... _respondi meio nostálgico.

Corneto tocando ao fundo. Era o aviso de agrupamento Druida, nos juntamos aos demais em formação de passeio. Silêncio, Trompa com toque longo, uma coorte fui acrescida a nossa frente. A Trompa fez um toque curto e uma segunda coorte se posicionou na retaguarda.

_Elfos, olhar à direita! _ exclamou Contra-mestre Junwo.


Viramos nesta direção e vimos Mestre Hortinin e Mestre Linwë no alto da escadaria. Depois de uma pequena pausa o Mestre começou a dizer:


_Irmãos, hoje vós deixeis a segurança de um lar e encontrarão a incerteza da guerra. Adoraria dizer que nada irá acontecer a vós, que todos voltarão para casa, mas não posso mentir. A forma mais fácil de matar um de nós é exatamente esta: em uma guerra. Mesmo assim peço que não larguem vossa fé e confiem no altíssimo!


A multidão bradou em gratidão às palavras do Mestre. Ele aguardou o silêncio e continuou:


_Durante este período em que estiverdes afastados de casa estarei longe fisicamente, mas meu coração vai convosco. Como não estarei por perto preciso lhes dizer quem zelará por vossas almas nesta campanha. Partirá representando o solo de Haendelle Contra-mestre Junwo, e assim sendo General da Coorte de ambas as cidades. Representando o solo de Vinyvass Mestre Linwë.


O ancião se aproximou da mulher com uma tiara metálica nas mãos. Mestre Linwë inclinou a cabeça e Mestre Hortinin fixou-a.


_Mestre Linwë, a partir de agora és a Governante da Campanha. As almas de nossos irmãos estão sobre seus cuidados diretos e sobre os cuidados indiretos de suas cidades de origem. Nossa caminhada será dura, mas nossos pés são fortes!


Mestre Linwe sorriu e voltou-se para nós.


_Irmãos cuidarei de vós nesta jornada difícil! Teremos dois dias de caravana até Hertfordville, onde encontraremos com as tropas de General Uter. Será apenas o começo, contudo rogo ao altíssimo para que isso não se prolongue mais do que possamos agüentar e sei que não sou a única a pedir. Vamos meus Irmãos, é a hora de partirmos!


A mestre abraçou o ancião e desceu as escadas, seu cavalo estava junto com a cavalaria da coorte a nossa frente. Um corneto soou solitário para ser seguido pelo toque dos demais acrescido de toques de trompa. Nossos passos seguiam o compasso da melodia e saindo da ágora nos dirigimos para o portão de Haendelle, as famílias acenavam das janelas, das portas, da rua... Sobre o ombro de meu pai vi Vanimë, ela e Alasse acenavam na direção atrás de mim, provavelmente avistaram Paussin. Meus pais me viram e acenaram, a pequena flor também me viu e jogou beijos. Retribui com um aperto no coração. Quando passamos pelos portões de Haendelle, uma lágrima desceu por minha face. Nosso mundo não seria mais o mesmo.



(continua)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Capítulo XV - Terras distantes

Acabara de cair na cama e olhava para o teto. Nunca pensei que ele pareceria tão distante de mim. Meus olhos estavam pesados e por um momento esquecia que ainda não havia trocado de roupas, pois assim como entrei, de túnuca e manto, caí na cama. Batidas de canecas na mesa, o elfo e o homem, o druida e o mago passaram aquele fim de noite conversando amenidades ao som de liras e ao sabor do vinho. Batidas na madeira e a imagem das canecas vazias largadas sobre a mesa formavam-se em minha mente. O som persistia, mas o que seria isso? Afinal, estava eu no meu quarto a muito!

O intrigante som vinha da minha porta que já não era mais batida e sim esmurrada e por um momento temi pela integridade da mesma, assim sendo, levantei-me da cama e percorri a grande distância de um metro que me separava daquele pedaço de carvalho trabalhado e preparado para selar ambientes...
Abri a porta e me deparei com os olhos de água-doce de Lavië a me encarar. Aflita, a moça quase não me deixou falar e quando percebi ela já estava sentada na minha cama.


_Não gostarias de entrar? _ perguntei por mera formalidade.
_Feche esta porta e escutai o que tenho pra te falar! _acredito que nunca vi tanta autoridade em sua voz antes e me peguei pensando em como um beijo pode deixa-la tão mandona, como se eu já fosse de sua propriedade, mas me sensurei, o produto da videira já havia me deixado alterado.


_Tudo bem. _fechei a porta, puxei uma cadeira e me sentei à sua frente_ Conte-me, deve ser muito importante!
Ela me olhou, estava mais aflita do que quando entrou e gotas de suor brotavam de sua fronte.


_Acabei de sonhar com Mab!
Suas palavras Suas palavras me despetaram mais rápido que um chá de boldo-yaë.
Mab? Como foi isso?


_Foi estranho, parecia que a via pelos olhos de Viviane, em terras distantes. Como se chamavam mesmo? Ela disse... Ynys Llanddëlle,lembrei!


_Ela falou? Então não estava sozinha, com quem mais ela estava, com viviane mesmo?


_Calma, conto-te tudo!


Lavië me narrou o sonho com tantos detalhes que por um momento parecia eu a testemunha do diálogo que acontecera a milhas de distância e em outro plano de existência, todavia, ela não sabia explicar quem era o arcanjo de cabelos claros e com uma safira quebrada fixada na testa. Meu conhecimento sobre arcanjos parecia limitado, agora que eu me sentia confrontado com um nome e uma imagem que eu não conhecia. Quando ela terminou de contar e parecia querer uma resposta para sua visão eu só pude dizer:


_Precisamos acordar o Mestre!


Alguns minutos depois e estavamos sentados na sala dos aposentos do Mestre Hortinin. Aparentando sono, com as orelhas caídas, o mestre ouviu cada palavra do sonho de Lavië. Assim que ela terminou ele perguntou:


_Querida, sabes quem te enviou essa visão?
_Sim, mestre, Viviane...
_Ela assistia a tudo do outro lado do canal, em Celtiland. Agora me diga, sabes quem era o arcanjo que conversava com Mab?
_Não mestre, o nome dele não me parece familiar, nem mesmo a fisionomia, pois não me lembro de nenhum relato descrevendo um arcanjo com um pedaço de safira quebrada engastada na testa. Só percebi pela conversa que se trata de um dos anjos revoltosos...
_Exatamente, mas não qualquer anjo revoltoso, mas aquele que iniciou a revolta na Cidade Celeste! _interrompeu o mestre.


Silêncio no aposento, por um momento pude ouvir os grilos lá fora... Eu estava surpreso, assim como Lavië, Phosphorus era então um dos nomes do portador-da-luz.


_Estáis surpresos? É a juventude de vós! A muito não me surpreendo mais com as notícias do astral! _ o sábio, sentado na sua cadeira, olhava para o teto_ Agumas informações não são de conhecimento de todos, queridos irmãos, ou elas são reveladas como foi à ti, Lavië, ou são permitidas saber quando alcançamos graus elevados dentro da ordem, por isso estudo e disciplina são fundamentais na vida de um Druida!
Continuamos em silêncio


_Os seres angelicais são criaturas do altíssimo. Muitos pensam que eles não têm sentimentos, sexo ou livre-arbitrio, contudo eu vos digo, possuem sim! Phosphorus, portador-da-luz era o guardião do fogo, ou metaforicamente, da sabedoria divina. Curiosamente o nome em idioma comum do Império que hoje quer tomar posse de nossa ilha. Depois que o Altíssimo povoou o mundo com todas as raças e determinou a cada povo um protetor, alguns destes reinvindicaram um pouco de sabedoria para seus povo. Nem todos o fizeram. Os que assim queriam, foram ter com o gardião da sabedoria do Altíssimo e com muitos argumentos o convenceram de ceder um pouco, contudo ele não poderia fazer isso sem que o Altíssimo permitisse. Ele não permitiu e deu o assunto por encerrado.


“Tendo em mãos toda a sabedoria divina e conhecedor desta, Phosphorus ignorou a ordem dada a ele e desceu ao mundo jogando partes da sabedoria aos homens, por julgar que isso seria bom para eles. O fogo então foi espalhado pelo mundo, mas nãi em partes iguais e nem mesmo seu conteúdo era igual. Caindo no corações das criaturas mundanas, muitos viram a beleza do fogo, outros viram o pior que o fogo pode aflorar nas pessoas.”


“O caos foi lançado aos quatro ventos por um ato de desobediência. A mesma desobediencia é retratada no livro sagrado sofiense e chamada de pecado original, quando as criaturas de Javé comem do fruto proibido e descobre a sabedoria divina!”


“O Altissimo pediu retratação por parte de Phosphorus, mas este não se arrependeu e insitado por um terço da cidade Celeste, tentaram tomar esta. Miguel, Hamariel e Maximiel formaram a liderança contra os revoltosos, defendendo a cidade com suas espadas flamejantes, seguidos dos dois terços de anjos que ali estavam.”


“Após uma batalha de tempo imensurável, Miguel derrota Phosphorus. Com sua rendição,o Altíssimo o condena ao exílio da esfera da cidade celeste, com isso ele não poderia mais perceber a presença do criador em todos os lugares. Phosphorus e seus seguidores tiveram seus movimentos limitados a algumas esferas astrais e o plano material.”


Uma aula sobre a revolta do Portador-da-luz e eu meio bêbado para prestar atenção. Lavië mantinha seus olhos abertos, quase não piscava. Mestre Hortinin continuava olhando para o teto, parecia contemplar a cidade celeste de sua cadeira.


_O fosso a que Mab se referia é a atual morada dos revoltosos... _reticente por um tempo, o mestre preosseguiu _ Querida, imaginas o porquê do envio desta visão para ti?


_Estou muito confusa neste momento, mestre, na verdade, não consigo compreender essa visão...


_Lavië, Viviane capturou um momento de fraquesa de Mab. A protetora dos humanos e drows não se juntou à revolta contra o Altíssimo, mesmo com seu amado como lider, hoje ela é a revoltosa e o mesmo amado que ela “abandonou” tenta mostra-la o quão perigoso é o caminho que ela tenta trilhar. _ o sabio para de olhar o teto e fixa os olhos na druidesa a sua frente _ Minha conclusão: mesmo que passemos por momentos de grande tribulação, não devemos nos amendrontar diante do perigo. Acredito que mesmo que essa guerra dure anos, só terá um fim, Mab não triunfará!


A apreenção era nítida nos olhos da elfa. O mestre voltou a olha para o teto e com um sorriso nos lábios disse-nos:
_Irmão, volteis para vossos aposentos e não deixeis a preocupação tomar conta de voços corações!


Acenei com a cabeça e Lavie apenas deu um sorriso acanhado. Seguimos para a nossa ala e parei na frente da porta de Lavië. Ela me olhou nos olhos e me abraçou forte, recostando a cabeça no meu peito. Minhas mãos acariciaram seus cabelos. Ela olhou novamente em meus olhos, beijou-me e disse:


_Boa noite meu amor! Precisamos dormir, pois amanhã é um dia de muito trabalho!
Acaricieu o seu rosto e vi um sorriso de esperança brotar em sua face. Acenei com a cabeça e ela entrou no quarto.
Voltando para aminha cama. A ultima coisa de que me lembro daquele dia foi de ter acordado da mesma forma que deitei e com a cabeça ainda girando pelas canecas a mais que compartilhei com Merlin.


Continua
Ilustração: Caroline de Moraes Guilherme

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Capítulo XIV - Arcanjos

As ondas batiam contra as rochas com uma certa força insistente. O cinza escuro de um céu intrigante, cujo sol já deitara a muito e curiosamente não escurecia, era só mais um elemento naquela paisagem estranha. Ventos uivavam e além de fazer a grama verde sobre aqueles montes balançar as folhas, os cabelos roxos, da mulher que contemplava as terras do outro lado do canal, também dançavam ao seu sabor. Seus olhos miravam quase que obcecadamente o painel que se formava depois das águas. Seu pensamento voou longe, como quando batia suas asas para contemplar essas mesmas terras do alto. Apenas se ouvia o vento e as ondas a castigar as rochas em que Mab estava, com seus longos cabelos soltos ao vento e sua túnica balançando enquanto segurava seu manto. O cheiro do sal do mar impregnava o ar. Tão absorto estava o Arcanjo, que ela mal percebera que há algum tempo não estava mais sozinha, apenas quando o silencio foi cortado por uma voz:

_Não importa quantos séculos passe, este sempre será teu lugar preferido...

Mab virou seu rosto na direção da voz e respondeu:

_Ynys Llanddëlle é quase que como um lar para mim. Adoro vir aqui e ver a paisagem da Ilha de Gildor, da Peninsula Llyëhn e das terras de Eryriëlle. Não sei, mas as montanhas do Eryriëlle Massif sempre me deram um sentimento de segurança...

_Principalmente agora, precisas mais de segurança... _interrompeu o homem alto que fazia companhia a Mab.

_ Phosphorus, creio que não precisas tentar me convencer de que estou em perigo, já me basta Viviane fazendo isso!

_Natural, já que somos irmãos...

_Mesmo assim, sei muito bem o que estou fazendo! _respondeu Mab, já demonstrando irritação. _ Além disso, não acredito que tu estejas em posição de me dar conselhos!

_Deveras!

O arcanjo parou um pouco, respirou fundo e se aproximou de Mab entrelaçando-a em um abraço por trás e disse:

_Mab, minha querida, sabes o quanto sofri e o quanto sofro ainda pela rebelião!

_Sim, sei disso... _disse a mulher virando o rosto na direção oposta ao de Phosphorus.

_Mab, não estou aqui para te convencer de nada, apenas para mostrar-te como podes se machucar ao seguir este caminho! Foste bem cautelosa quando não me seguiste com os revoltosos. Pense bem sobre isto!

Phosphorus encostou seus lábios no pescoço de Mab, a mulher sentiu um arrepio percorrer seu corpo todo. Os Braços dele apertaram mais o abraço, ela suspirou e de um sobressalto afastou o companheiro.

_Saia daqui! Volte para o abismo que tu e teus soldados receberam de espólio da derrota que Miguel te impôs! Não me importune com teus carinhos agora! Deverias ter pensado sobre isso antes de te revoltares contra o Altíssimo! Deverias ter pensado que me deixarias sozinha neste mundo! Talvez assim eu não tivesse ambicionado ter um domínio só meu! Talvez, se tivesse tido o seu coração como companheiro...

As lagrimas rolaram na face alva de Mab. O arcanjo nada falou, ficou apenas a observar a mulher em sua profunda amargura.

Mab ajoelhou-se no chão, seu corpo tombou pra frente junto com seu pranto que pesava os ombros. O vento não parava de assobiar no mesmo ritmo das ondas que encontravam as rochas. Depois de alguns instantes, Phosphorus rompeu o silêncio entre eles:

_Não pretendia trazer-te sofrimento, minha amada, apenas alertá-la, de que se tuas intenções não se consolidarem como imaginas, talvez um fosso também tu receberás como espólio por tua derrota!

_Vá-te daqui! _exclamou a mulher encolhida ao chão_ Deixe-me em paz!

O arcanjo fitou a mulher em sua agonia, fechou os olhos e balançou a cabeça. Suas asas então surgiram e em um salto ele adentrou em meio a uma luz avermelhada que sumiu como veio.

Parecia que apenas o vento e as ondas eram testemunhas dessa conversa, contudo os olhos verdes como as folhas das arvores na primavera, escondidos em algum lugar de Eryriëlle, observavam cada movimento na costa de Ynys Llanddëlle. E esses mesmos olhos transmitiram essa imagem para olhos verdes como a água doce. Olhos que se abriram em um susto no meio da noite.

(continua)


Hoje, a equipe do Portal do Clérigo ganha mais um (uma na verdade) integrante, Caroline de Moraes Guilherme, estudante de design da UNESP. Seu traço já apareceu por aqui, ilustrando a forma Draconiana de Lólindir Cirvatan. Quer ver mais ilustrações dela? só clicar na foto ao lado!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capítulo XIII - Tulipa Vermelha de Ancar

O suor descia por minha fronte. A respiração era rápida e meu coração estava disparado. Olhei nos fixamente para os olhos daquele homem de cabelos castanhos, curtos a uma distancia de duas jardas de mim. Seus olhos castanhos brilhavam, estava na expectativa, cuidando algum deslize de minha parte, mas cansou de esperar, o cajado rodou em suas mãos e um arco se formou na minha direção. Um paço para trás, golpeei com meu cajado, o impacto contra a arma do meu oponente o fez quase largá-la, aproveitei a abertura de guarda, um paço à frente, um giro em direção ao chão, cajado colhendo os pés do oponente no momento em que me levantei. Um baque surdo ao chão, movimento rápido para frente, cajado apontado para o rosto do homem caído à minha frente, quieto, apenas a sua respiração era ouvida.

O silêncio é cortado pela voz do Contra-mestre Junwo:

_Muito bem Lenwo, agora deixe Larasin, levantar, por favor!

_Ah, claro, Contra-mestre! Tu estás bem, irmão?

_Sim Lenwo, apesar do susto, como sempre és cuidadoso nos treinos! _disse Larasin agarrando minha mão para se levantar.

_Continue treinando com Marahr, Larasin, pois preciso conversar com Lenwo. _ Disse o Contra-mestre.

Contra-mestre Junwo, era o responsável pelo treinamento bélico de nossa ordem, além de ser o vice-governador de Haendelle. Andamos pela galeria e Contra-mestre Começou a falar:

_Esta é sua tarefa: Precisamos que pegues um carregamento de poções na botica central, Yaniv já sabe que irás lá, tudo bem?

_Sim, precisarei de ajuda?

_Não, são apenas alguns frascos de poção-cura-severa, já temos o bastante aqui, mas Mestre Hortinin disse que precisamos ter um excedente para evitar problemas...

Ganhei a rua a caminho da botica central, na mente um emaranhado de pensamentos, desdobramento das responsabilidades druidas para com a sociedade celta. Sejam elfos ou humanos, os druidas desempenham um papel fundamental na sociedade. Legisladores, curandeiros, boticários, botânicos. O saber, a ordem, a cura... Os druidas zelavam pelo bem do povo usando essas ferramentas. Yaniv era o boticário chefe de Haendelle, druida especializado no poder das ervas, aprendeu com o avô os segredos da natureza. Yaniv além disso era o irmão de Lawë.

_Aiya, Lenwo! Viestes buscar as poções para mestre Hortinin?
_Isso, mesmo irmão!
_Está aqui! _ Yaniv entregou-me uma sacola com os frascos que pesavam _ Cuidado por aí!
_Ah, sim, terei! Namárië!
_Namarië e cuida da Tulipa de Ancar!

Sorri com essa observação. Ancar é como se chama a cidade do extremo norte gelado, no continente, nossas histórias ditam-na como a origem dos elfos.

“De Ancar partiram sete famílias, com três gerações cada uma, rumo ao sul, onde pessoas de vida curta e pensamentos ligeiros encontrariam. Quando três de sete viraram mais do que sete de sete, foi à vez de 7 clãs atravessarem o mar para em Celtiland que poderem chamar de lar!”

um parágrafo da Épica de Ancar, veio a minha mente, além disso não poderia esquecer, Ancar também é o nome do pai de Yaniv.
Tulipa de Ancar.

Estava sentado à mesa, jantar na casa do Sr. Ancar. Era a primeira vez que eu visitava a casa de Lawië. Lembro-me do elfo alto, com seus cabelos dourados, olhos verdes e sorriso no rosto erguendo a taça e falando:

_Hoje minha querida filha comemora mais um ano de uma longa vida que, oxalá, assim seja! E quero deixar aqui registrada a minha lembrança do dia em que a vi pela primeira vez. Ela estava enrolada em cobertas, no colo de Maraë e seus cabelos vermelhos fixaram a imagem de uma tulipa surgida no inicio da primavera. Lavië, eu disse, Lavië será seu nome, Tulipa vermelha em Altschelves!

Amenina de cabelos vermelhos corou...

Carregando a pesada bolsa cheia de frascos, voltei até a sede da ordem, assim como aportei de novo à realidade depois de dar asas aos meus pensamentos, entreguei ao encarregado e encontrei Merlin andando pelo jardim.

_Aiya, Naldus!
_Aiya! Merlim, gostaria de uma caneca de vinho?
_Seria ótimo!
_Pois assim seja!

Pegamos o rumo da taverna, pães pretos, música e vinho, seria um bom final de dia!

(continua)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Capítulo XII - Descoberta

Estava sentado sobre uma almofada apreciando os acordes que minha mãe produzia em sua flauta. Meu pai, sentado junto a ela cantava os versos tão antigos quanto nosso povo, cantigas doces, algumas vezes melancólicas, contando a chegada dos primeiros elfos a Celtiland, os pioneiros que deixaram para trás, os paises gelados, os parentes e acreditaram que nessa ilha faria uma nação forte.
Esse momento ufanista exacerbado, ao som da flauta delicada de minha mãe, foi interrompido por uma batida à porta. Para não interromper a musica de meus pais, já que eu não era o único ouvinte, pois tinha minha irmã e minha sobrinha como companhia nessa pequena festa, levante-me e fui atender a porta.

Ela estava parada, aparentemente nervosa, não me recordo de quando vi Lavië me olhar daquela maneira antes. Seus olhos miraram os meus, pareciam ler minha alma e por um momento eu fiquei inquieto com o seu gesto, mas antes que eu pudesse falar algo, ou ter percebido que o que parecia ter passado vários minutos, fora apenas poucos segundos, sua voz rasgou o silencio entre nós:

_Aiya, Lenwo! Não vim para uma visita e sim para conversar contigo e ficaria muito grata se fosse só entre nós!

_Ai... Aiya, Lavië! Tudo bem, só vou avisar aos meus pais que precisamos conversar um pouco e podemos andar um pouco pelo campo, certo?

_Certo...

Virei-me e acenei para meus pais, eles acenaram para nós e entre um verso e outro, meu pai disse para voltarmos para comermos antes de regressarmos para a Ordem.

Andamos um pouco e logo estávamos perto do jardim de tulipas de minha mãe, com a primavera por chegar, algumas flores já demonstravam sinais de que logo estariam colorindo nossas vidas novamente.

Seguindo um pouco mais à frente, um grande carvalho se mantinha majestoso e fazendo uma bela sombra que Lavië e eu aproveitamos e encostando as costas no tronco da árvore, nos sentamos.

Encostei a cabeça no tronco da árvore e dali eu pude ver minha casa, a dos vizinhos, a cidade inteira, Haendelle estava ali a nossa frente.

Lavië encostou a cabeça em meu ombro e ficou observando a cidade também.

_Lenwo, como pode nossas vidas mudarem tanto em tão pouco tempo? Como pode um povo que vive a lentidão do passar dos dias a contar semanas, anos, séculos, ter tudo que conhece mudar de uma hora para outra?

_Sei o que queres dizer, Lavië, acredito que esteja além de nossa compreensão!

_Mês passado estávamos sentados, devorando livros e em pouco tempo estaremos indo guerrear... _a voz de Lavië parecia embargada ao dizer isso.

Passe minha mão sobre os cabelos vermelhos de minha amiga, ela levantou a cabeça e procurou meus olhos. Ela me mirava novamente como quando eu abri a porta. Havia um misto de sentimentos em seu olhar: raiva, angústia, medo... e paixão!

Naquele instante eu compreendi as palavras de Mestre Hortinin, “cuide de Lavië”, tão absorto que estive, preocupado com tudo e com todos e não percebi que essa amiga que agora estava com os olhos marejados, sentada à minha frente, merecia um pouco mais da minha atenção. Não, não apenas um pouco mais. Aqueles olhos de água-doce que me olhavam como quem busca um pouco de esperança em meio ao caos, deixaram de ser da menina de cabelos vermelhos que sempre esteve por perto, para se transformarem nos olhos verdes da mulher, Lavië Yende-Ancar, Druidesa de Haendelle e que já a algum tempo habitava uma parte de meu coração, sem ter pedido licença, apenas chegando e se apossando do território. Me senti como um menino, parecia fazer calor, suor brotou em minhas mãos, era confuso, como poderia sentir tantas coisas ao mesmo tempo?

Eu tinha o dom de manipular a natureza com minha vontade, contudo, qualquer magia, por mais avançada que fosse, naquele momento era completamente inútil, era só ela e eu.

_Lenwo, meu doce Lenwo..._ disse Lavië, como quem arranja força onde não existe_ Hoje, ao acordar, eu me dei conta de que o ritmo de nossas vidas está mais próximo do ritmo humano, que ela pode ser tão efêmera quanto à deles e que podemos partir para outro plano tão rápido e isso me fez tremer a alma. Estou mais que confusa. Nosso povo está acostumado a cultivar relacionamentos ao longo de incontáveis anos, a única exceção que eu conheço foi o casamento de Alasse e Paussin. Não me via preocupada em formar uma família, ter filhos, até ontem, minha preocupação era apenas servir ao Altíssimo e em apenas um dia, me cai sobre a cabeça que isso pode não acontecer, que eu posso morrer, que tu podes...

_Lavië! Não penses nisto! Lembra-te de nossa tríade: Curar a nós mesmos, curar a comunidade e curar a terra, pois não sendo assim não podemos nos chamar de druidas!

_Sim, eu sei...

_Então, se entregar a esses pensamentos é o mesmo que ignorar nossa primeira prioridade e se não estivermos curados de todos os males, realmente pereceremos!

Ela me olhava atentamente e nesse momento vi que a esperança renovava-se em sua alma.

_Hoje aqui, debaixo dessa árvore sagrada, eu, Lenwo Yondo-Calmicácil, te digo, que se depender de mim, nada de ruim irá acontecer a ti, minha querida Lavië!

_Ah, Lenwo...

Nossos olhares mantiveram-se fixados, nossas mãos unidas, o perfume adocicado que emanava dela parecia me envolver, a distância entre nós parecia cada vez menor e meu coração batia energicamente. O rosto de Lavië estava bem a minha frente, nossos narizes quase se encostando, sua boca delicada ficou entreaberta no exato momento em que ela fechou os olhos. Fechei os meus e nossos lábios se encontraram e o tempo parou naquela tarde, a tarde em que eu descobri que Amava profundamente Lavië.

(continua)